3 #terceiro gole

 
Oi, tudo bem por aí?
Bora pro terceiro gole?

 

Semana passada, com a morte do Paulo José, me lembrei de uma entrevista que a Marília Gabriela fez com ele uns 10 anos atrás. 
Na ocasião, já se percebia que o Parkinson do ator estava bem avançado e que ele já apresentava bastante dificuldade na fala.

E então, depois de algumas perguntas sobre carreira e trajetória, ela questionou: “Paulo, qual é o lado bom da velhice?". E ele prontamente respondeu: "Nenhum."

 

Gabi ficou bem desconcertada com a resposta porque esperava uma frase bonita como: "experiência de vida ou jamais voltaria no tempo porque o conhecimento que eu tenho hoje é de grande valia e blá blá blá". 

 

Não. Paulo não via vantagens. Ele queria ter a mesma vitalidade e saúde de anos atrás, mesmo que isso lhe custasse toda a experiência que acumulou. 

Na época fiquei pensando se eu voltaria atrás. Mas é fácil dizer que não se volta atrás quando se está com 30, 40 e 50 anos, com a vida relativamente estabilizada e usufruindo de tudo o que conquistou e trabalhou uma vida. Mas quando se fica velho, velho de verdade, quando os músculos enfraquecem, as doenças aparecem, a sua memória não é a mesma e a sua agilidade tampouco, é mais difícil romantizar. A gente trocaria sim todos os cabelos brancos por aquela energia que corria 10 km nas provas de rua.

Fiquei pensando se a vida, na verdade, é uma montanha russa em que na subida você tem de 12 a 35 anos pra sair correndo atrás de tudo, dos 35 aos 60 você (continua trabalhando) mas viaja mais e curte o dinheiro que guardou e com 70 você constata seriamente que bom mesmo seria ser jovem de novo.

 

Eu sei, esse papo está ficando muito café pessimista (essa era uma expressão que eu e uma amiga usávamos quando descíamos das nossas redações e íamos pro café da saudosa Editora Abril para falar das nossas ilusões perdidas). Desta vez é melhor abrirmos um vinho e você me retornar este e-mail falando se concorda ou não com o papo de que terceira idade é a nossa melhor idade (ah, vá).

 

Falando em tempo que passa, a news da semana passada rendeu respostas muito boas de vocês sobre momentos transcendentais, os quais agradeço muito por terem compartilhado comigo. Aliás, o Lucas me mandou um vídeo que eu achei maravilhoso -  em que o narrador fala que esses momentos aí são chamados de Dés Vus (A percepção de que isso um dia irá virar uma lembrança). O vídeo é curtinho e tem legendas em português disponíveis, recomendo muito. 

 

E sim faltam praticamente 4 meses para começar 2022. 
E a gente ainda digerindo 2020…

Hoje um amigo me perguntou: "Quando a pandemia acaba pra você"? E eu, que nunca tinha pensado por esse lado, entendi que talvez a vibe seja essa mesmo.

"Quando você vai terminar com a pandemia?"

Afinal, se é um vírus aéreo, não dá pra matá-lo, não tem remédio e nem vacina 100% eficaz, acho que vale perguntar "Você encerra quando a pandemia?"
Ou então: "Quando você volta a viver"?

E aí constato que cada um deve ter uma meta. Que pode ser depois da segunda dose, ou após as mortes caírem drasticamente ou quando os casos de contaminados chegarem a quase zero (será que conseguimos?). 
Na verdade a pandemia já acabou pra muita gente (sem julgamentos), mas é que ainda não consigo me sentir confortável sem máscara na mesa de um bar cheio de gente. Quando a pandemia acaba pra mim? Eu ainda não sei. 

 

Obrigada pela companhia, queridos.

O tempo passa depressa, mas eu consigo experimentá-lo melhor quando compartilho as sensações numa newsletter como essa.

 

Um beijo.

Volto logo, 



 

 

 

*Um rascunho perdido*

"Deitei a cabeça no travesseiro e resolvi ir até a quarta-série. Me pareceu aconchegante. Saí correndo com alguns amigos no corredor, inventei a próxima peça de teatro. Escutei risadas muito altas. Era comum gargalharmos naquela época. Compramos dadinhos para comer no intervalo. Refrigerante em sacos plásticos. Puxamos a manga do moletom para que ele acobertasse as mãos. E trocamos de sonhos como quem troca de calçada. 

Peguei no sono."

 

Clara Vanali

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Sobre

 

Sou jornalista mas penso que ser jornalista é mais sobre investigar. Ser escritora é mais sobre observar. Aqui, me sinto mais escritora que jornalista. Prazer, Clara ;)