7 #sétimo gole

 
Oi, tudo bem por aí?
Bora pro sétimo gole? 

(será que no sétimo gole já estamos bêbados?)
 

Assisti uma vez a uma palestra virtual da Elizabeth Gilbert (autora do best seller "Comer, Rezar e Amar'')  em que ela dizia que, muito provavelmente, o maior sucesso da vida dela tenha sido este livro. E que jamais conseguiria repetir tamanho prestígio e repercussão que a obra causou em milhares de leitoras que se identificaram com a iniciativa de largar tudo e ir passar 1 ano em 3 países diferentes.
 

O fato é que o Spotify me recomendou Falamansa para ouvir esses dias. E como Falamansa lembra muito a minha adolescência, segui a sugestão e fiquei curtindo aquele forró que foi um sucesso estrondoso nos anos 2000. Vocês lembram dessa fase? Lá no interior, toda festinha tocava Falamansa e era o momento perfeito para dançar com o paquera e ficar juntinho, coladinho, curtindo aquele som que hipnotizava e fazia do Brasil inteiro apaixonado por forró.

Fiquei pensando como que um grupo musical aparece, faz um CD (Deixa Entrar), explode de sucesso e depois some.
 

"Eu tenho um segredo menina
Cá dentro do peito
Que a noite passada
Quase que sem jeito
Pela madrugada ia revelar.

 

Foi quando um amor diferente
Estava nos meu braços
Olhei pro espaço
E vi lá no céu
Uma estrela cadente se mudar."

 

O fato é que ninguém precisa fazer sucesso uma vida inteira. Isso é bem raro, na verdade. E uma pressão bem besta. Você pode produzir um projeto bacana, ganhar dinheiro ou visibilidade, usufruir da fama ou reconhecimento e depois não realizar mais nada que ganhe destaque. E não é um problema. Acho o máximo quem consegue realizar pelo menos 1 projeto ao longo da vida que tenha triunfo, mesmo que a inspiração não volte mais a dar as caras de imediato.

 

Vocês acham que o maior sucesso profissional da vida de vocês já aconteceu?
Ou ele ainda virá?

Pode ser também que nunca venha, porque não é obrigatório cumprir esse requisito para viver em paz e com conforto no coração. 
Mas eu gosto dessa divagação. De ficar pensando em fases massas em que a vivenciamos um enorme prestígio profissional. Nem que tenha sido por uma noite.
  

Lembrando do lado de cá, tenho um episódio do final do último ano da minha faculdade que eu guardo com muito carinho. Foi de um prêmio que eu participei, com zero expectativa, da CNN Internacional. Isso foi em 2008 (a emissora nem tinha sede no Brasil e ainda era uma empresa legal). Concorri com estudantes do país inteiro com um vídeo que fiz sobre um grupo de Maracatu. No dia da premiação, a minha irmã (hoje minha sócia - Natali, te amo bebê) estava comigo. Eu e mais 3 concorrentes éramos finalistas. No dia da premiação, quando o mestre de cerimônia falou quem era o segundo lugar, eu já olhei pra minha irmã comemorando porque, como eu não era o segundo lugar, eu tinha ganhado o primeiro. Cara, que dia massa! Eu estava me formando na faculdade, tentando encontrar meu espaço no jornalismo e esse concurso caiu como uma luva. Foram, pelo menos, uns 3 meses curtindo a repercussão, a vitória, o frio na barriga, dando entrevistas e me preparando para uma viagem a Atlanta, que era o troféu do prêmio. Foi a minha primeira viagem internacional sozinha. 

Lembro que a minha faculdade ficou em choque porque eu era uma desconhecida do interior que desbancou alunos de todo Brasil com uma reportagem pra uma emissora americana. Quando participei não pensei que fosse possível ganhar, tava mais afim de curtir o processo como um todo. 
Mas certamente foi um daquele momentos em que as pessoas acham que somos importantes, sabe? E em que a gente aproveita que se está vivendo um episódio empolgante na vida. 

 

Não tô cravando aqui que foi o auge da minha vida profissional. Tivemos vídeos muito mais elaborados entregues nestes 10 anos de produtora de vídeo. 
Mas quem sabe tenha sido (?)! Pela inocência dos sonhos e repercussão da época. 

O que, afinal, define um auge? Episódio isolados ou uma constância de projetos ao longo dos anos? 

 

Me contem de vocês? 
Já houve algum acontecimento das suas vidas que fez vocês pensarem - esse dia foi foda! (?)


Mudando de assunto e seguindo com Falamansa. 
O Lauro, do meu Ensino Médio, dançava forró como ninguém. E Falamansa era o momento dele. Os outros meninos morriam de inveja porque todas as meninas queriam dançar com ele. O fato é que eu tinha 16 anos e nunca tinha beijado. E Lauro queria ser o primeiro. E eu queria beijar pra tirar o peso dos ombros de nunca ter beijado. Pois bem, juntamos os propósitos e nos beijamos. Depois disso, eu me livrei do peso e não quis mais saber do Lauro. E o Lauro ficou chateado porque queria ter engatado um romance ali. Podíamos mesmo. Mas eu não gostava do Lauro, gostava de outro. Enfim, tudo isso pra dizer que, Lauro, se você estiver lendo essa newsletter, me desculpe hahaha. Eu gostava de dançar forró com você. 


Fiquem bem, queridos.


Um beijo,
Volto logo. 

 

 

 

*Um rascunho perdido*

 

Convém aproximar bocas conhecidas 

 

E que memorizam o caminho de casa para nos acompanharem a pé.
Que não deixarão jamais, nem por uma fatalidade, de enviar mensagens ao longo do dia.
– você está bem / está ouvindo minha saudade / está com fome / está por aí?

Bocas que já sabem a história da nossa vida. 
Que gostam do quanto improvisamos no assunto que seja. China. Tesouro direto. X-men.

As bocas novas impressionam. Se envaidecem. São curiosas.
Mas as conhecidas. Ah, as conhecidas. São as que nos carregam no colo.
Experimentam o vinho na nossa taça, conhecem nosso gosto de ficar por oras em livrarias e supermercados, escolhendo livros e produtos que, por vezes, não são comprados.

Que já entendem que à noite o traje é moletom. Dos mais gostosos e confortáveis.
Que a especialidade é macarrão e ovo com gema mole.
E que o pão francês aos domingos vem com manteiga aviação.

Desejo que todas as bocas novas venham carregadas com a trajetória das antigas.
Com os beijos que não são à toa. Que caminham para um cinema. Para as rotinas preferidas. Para os clichês.
 

Convém amar, diria Hilda Hilst.
Convém amar bocas conhecidas, diria eu.


 

Clara Vanali

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Sobre

 

Sou jornalista mas penso que ser jornalista é mais sobre investigar. Ser escritora é mais sobre observar. Aqui, me sinto mais escritora do 

que jornalista. Prazer, Clara ;)