Oi, tudo bem por aí?
Bora pro nono gole?
O gole de hoje vai parecer um pouco longo, mas tenho a forte sensação que a minha experiência daqui pode te ajudar a lidar melhor com seu trabalho daí. Então me acompanha.
Na minha segunda temporada na saudosa Editora Abril, lá pelos meus 22 anos, trabalhei com produção de vídeos pro segmento de Arquitetura. Era repórter e fazia vídeos entrevistando arquitetos e captando imagens de ambientes majestosos para, na ilha de edição, reunir tudo e contar uma história que brilhasse aos olhos de quem assistisse à produção.
O fato é que, quando se é recém-formado, a gente se acha um pouco o dono da verdade e importante demais para receber críticas. Ainda não estamos acostumados com as cacetadas de trabalho do mundo real - em que empresas que precisam produzir, faturar e deixar os clientes satisfeitos. E por isso, ficava chateadíssima quando pediam ajustes nos meus vídeos - para mim estavam interferindo numa obra que foi estrategicamente pensada para ser daquele jeito. Não cabiam intervenções. Eu contra-argumentava com meu chefe e era bem resistente porque achava que os ajustes transformavam meu vídeo em algo ruim. E estragavam o conceito que eu tinha criado pra ele.
Bom, muitas cacetadas depois, montei minha própria produtora de vídeos aos 25 anos - que atende clientes e empresas que também têm suas próprias expectativas sobre os projetos audiovisuais que fazemos. E, embora a gente consiga ter bastante liberdade e uma saída boa de vídeos sem ajustes - os ajustes existem, e estão aí o tempo todo. Fazem parte de qualquer trabalho que envolve criação. O olhar de quem está nos contratando é tão (ou mais) importante que o nosso.
No começo da produtora ainda me chateava bastante porque me apegava demais aos projetos. Não entendia como o cliente me pedia para alterar algo que iria diminuir a grandeza da obra, na minha opinião.
O fato é que, em um belo dia do passado, assisti ao ótimo filme Argo. Lembram dele? É de 2012 e conta a história de um agente da CIA que cria uma estratégia para tirar seis americanos refugiados na embaixada canadense em Teerã, durante uma crise do Irã. A estratégia do agente (interpretado pelo Ben Affleck) é bem maluca, mas no final (tem spoiler) dá muito certo. E por ter dado certo, o agente recebe um prêmio importantíssimo dos EUA - que, no entanto, não pode ser divulgado para ninguém. Como a ação do resgate foi ultra secreta, nem sua família pode saber que ele foi colocado no patamar mais grandioso dos agentes da CIA.
Tô contando isso tudo pra dizer que, em uma das últimas cenas do filme, o personagem do Ben Affleck questiona seu chefe do seguinte: "De que adianta receber uma medalha de reconhecimento se eu não posso mostrá-la às pessoas?" E seu chefe rebate: "Quer aplausos? Vá para o circo".
Fiquei com essa frase na cabeça e trouxe-a para nossa empresa. E ela tem conduzido bem os pés no chão pelos nossos quase 10 anos de produtora. Produzimos vídeos com o nosso empenho, inspiração e suor mas, depois que os entregamos, temos em mente que aqueles vídeos não são mais nossos.
Se vier elogio, vibramos. Se não vier nenhum ajuste, ganhamos na mega sena. E se vierem muitos ajustes, somos zero ressentimentos, afinal - Quer aplausos? Vá para o circo.
E posso falar uma coisa? Esse pensamento aconchega os corações. A gente não deixa de se envolver e de se empolgar nas produções, mas entendemos que estamos aqui pra resolver as demandas e problemas que chegam até nós - sem esperar uma chuva de likes.
Não interpretem essa frase como um lembrete pra perder a doçura é só um empurrão pra gente não se abalar a cada cacetada.
Na última sexta-feira, confesso, eu quase caí na minha própria teoria. Entreguei um vídeo cuja trilha sonora escolhi a dedo. Pra mim era a melhor escolha dos últimos tempos, combinava certinho com a história que estava contando. Mas quando a cliente assistiu, não gostou. Pediu pra trocar a música. E eu me vi remoendo aquilo e pensando o quão o vídeo perderia se a trilha não fosse aquela. Cilada, amigos. De volta pra Terra. Nem sempre nossas ideias são aplaudidas e vida que segue. É só alterar a trilha e escolher ser feliz.
Mudando de assunto.
Tô virando expert em conhecer restaurantes em São Paulo possíveis de se ir durante uma pandemia. Eu sei que a vida está quase voltando ao normal e os lugares estão todos lotados, mas eu só consigo sentar numa mesa de bar se o local estiver mais vazio. Não tô falando de lugares caídos e ruins. Tô falando de lugares excelentes, mas que estão fora do hype paulista - não são tão fortes em redes sociais e por isso não estão no olho do furacão.
Deixo hoje duas sugestões - uma é o Atsui. Lugar lindíssimo, de luz baixa, delicioso para tomar moscow mule e pedir pratos japoneses, sem se preocupar com aglomeração. Dá pra ficar ali uma noite toda petiscando e provando os drinks que são o forte do local. Outro gostoso demais é o Marakuthai, que foi vendido pela chef Renata Vanzetto, mas que manteve a qualidade com o novo dono. Lá eles servem comida tailandesa quentinha e reconfortante e tem ótimos coqueteis. Ambos sem o furor e agito que faz a gente ter medo de tirar a máscara para comer.
Por hoje é isso, queridos.
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Um beijo,
Volto logo.
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