16 #décimo 
sexto gole
 
Oi, tudo bem por aí?
Bora pro décimo sexto gole? 
 
Eu adoro finais de ano, essa sensação de que já trabalhamos muito, não faltamos tanto no pilates e sobrevivemos para tomar uma tacinha de champagne com a família - que também sobreviveu à avalanche de 2 anos pandêmicos. Sendo assim, e aproveitando minha gratidão, venho trazer um tema levíssimo pra vocês neste encerramento de novembro. 
 
Das coisas mais gostosas da vida, uma delas é conviver com pessoas que têm iniciativa. Guardem bem essa palavrinha aí: iniciativa. 
No fim de semana passado eu chamei uma amiga pra sair e a primeira coisa que ela falou foi: vou pensar num lugar, deixa comigo! 
Puxa, como é reconfortante ouvir isso. Não preciso me preocupar com nada, só ir e curtir o passeio.
 
Uns anos atrás, um namorado que não era mais namorado (e já tinha virado meio-amigo/meio-caso) me mandou a seguinte mensagem: reservei ingressos pra um show no teatro municipal, vamos? 
Considerei até em reativar o namoro só pela iniciativa, hahaha. Tem coisa mais prazerosa que essa? Saber que alguém que dedicou uns minutos de vida pra pensar no que fazer com você numa tarde de domingo. 

Confesso que em se tratando de relacionamentos, eu quase sempre assumo esse papel - de ficar planejando os itinerários, exposições e calçadas. Gosto demais de conhecer lugares inéditos, então visto o protagonismo e vou levando a pessoa nos destinos que podem trazer uma experiência boa pra gente. Mas aí, no meio do namoro, me canso de sempre organizar tudo e fico matutando o que preciso fazer para aquele serzinho considerar em, ao menos por um dia, pensar numa rota por conta própria. 
 
Não tem nada mais apaixonante que um whats app que só vem com o horário do encontro, os tickets do cinema comprados e a pipoca no jeito - não dá tanto trabalho assim, né? É uma micro atitude que enobrece o coração. Aquela pessoa que planeja o roteiro da viagem, que lava a louça sem você pedir, que escolhe o delivery e desce pra pegar :p Desculpa, tô nesse mood hoje. 
 
Eu só faço questão mesmo de escolher o vinho. Não tenho nenhum problema com isso. Pode deixar na minha mão que vou dar tudo de mim para que a bebida não nos decepcione. Mas olha….sem problema nenhum também se, um dia desses, você aparecer com o vinho escolhido lá em casa - posso até voltar a cozinhar só pra comemorar este momento ;) 
 
Coisa boa demais. 

Importante mesmo é, mais do que esperar a iniciativa alheia, a gente nunca perder a nossa. Inventar, pensar, criar programações, cardápios e logísticas faz com que a gente nunca abandone o interesse em estudar percursos novos e levar - quem está do nosso lado - pro mesmo caminho. Não custa sonhar, né? ;)

Fiquem bem. 
 
Mudando de assunto.
Semanas atrás eu estava semi-apaixonada e minhas irmãs me atormentaram dizendo o quão legal eu sou quando estou apaixonada. Amar é um momento em que gente tira aquele peso da existência nas costas pra curtir cada mensagem recebida no whats app. Não durou muito porque, em 2021, os relacionamentos resistem por 2 semanas, mas não posso deixar de pensar no quanto o mundo perde comigo não-apaixonada. O amor me deixa melhor, amigos. Fico mais bem-humorada achando que a felicidade existe para desabar nas nossas cabeças todos os dias. Apaixonem-se sempre que puderem. Mesmo que não dure. 
 
Aproveitando que o amor nos torna pessoas melhores, deixo aqui a indicação de uma série Netflix chamada O Tempo que te dou. Cada episódio é curtíssimo, tem 11 minutos e a beleza da série é que, conforme a moça vai superando e esquecendo o cara, menos minutos são dedicados ao passado e mais minutos são mostrados do presente. Depois me contem. 
 
Um beijo,
Volto logo.
 
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*Um rascunho perdido*
(textos meus escritos em algum lugar do passado) 
 
Eu não posso comer uvas. Daquela variedade niágara. Roxinhas e pequenas.
Também evito mangas. Do tipo palmer. Bem amarelas e perfumadas. 
Eu evito, mas como. Evito, porque comê-las me traz uma saudade tão forte 
que às vezes não tô pronta para sentí-la.
Mas ainda as como porque assim que mordê-las, minha avó aparecerá ali, na minha frente. Outro dia, só de sentir o cheiro da manga na feira, já disse: 
– oi, vó / e aí? como você tá?
E vou fazendo um diálogo imaginário na cabeça. Tentando entender como podem frutas inocentes carregarem uma carga dramática tão cortante.
– foda, vó / mais um natal que a gente se lembra como é mais triste a vida sem você.
E aí, na minha cabeça, vou me lamentando na frente dela. Chorando. 
Sendo totalmente frágil, dilacerada. E menor que aquelas frutas todas.
– me dá um abraço aqui, pelo amor de deus.
- vamos esquecer que a vida morre e que o tempo corre desse jeito / eu preciso curar essa tristeza aqui, vó / e comprei uvas pra gente.
Merda. Lembrança é um negócio que derruba. Natal derruba.
Panetone derruba. E tudo que constrói os natais na casa da minha vó me atropela de dor.
– a gente te ama / e seu amor dá mais saudade em dezembro.
Sempre tinha manga na casa da minha vó.
Meu vô trazia da chácara e a gente só parava de comer quando cansava.
Nos natais, os cachos de uvas que ela comprava eram tão bonitos – que a gente quase recusava o pernil para ficar provando uvas a noite toda.
Hoje fui ao mercado. Tinham uvas e mangas.
Levei cerejas. Um punhado.
– porque hoje, vó, já tô tão sensibilizada de saudade que a única coisa que eu vou conseguir comer são cerejas / - mas olha, tem feira de rua na quinta. 
/ me espera, que logo a gente se vê de novo.
 

Clara Vanali

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Sobre

 

Sou jornalista mas penso que ser jornalista é mais sobre investigar. Ser escritora é mais sobre observar. Aqui, me sinto mais escritora do 

que jornalista. Prazer, Clara ;)