22 #vigésimo segundo gole
 
Oi, queridos. 
Vamos pro vigésimo segundo gole? 
 
Feliz ano novo (?)
Esses dias vi um vídeo em que uma menina falava que não conseguia fazer planos de novo ano porque essa passagem de tempo é ilusória. Não é uma explosão de fogos que fará um reset no planeta, abrindo caminhos para que todos os seus planos se realizem e você cumpra suas metas do jeito que imaginou. O ano vira e a gente engole uma dose de esperança de que alguém olhará por nós e salvará este planeta. 
 
Tá, eu não quero começar a primeira newsletter do ano com o pé na porta. Eu também tenho meus sonhos. Mas tá difícil sonhar, né? 
Fiquei com saudade de novembro de 2021, quando os casos de internação de Covid estavam baixíssimos e eu, Sabrina e Luciana fomos jantar no Futuro Refeitório. Dividimos duas garrafas de vinho branco, comemos uma massa reconfortante e fomos a pé até o Le Jazz, ali na rua dos Pinheiros. Sentamos no balcão, fingimos que era meu aniversário, cantamos parabéns com o bartenders e pedimos drinks pra alongar um pouco mais a noite. No ambiente tocava Dream a Little Dream of Me. Estávamos de volta. O nosso renascimento após 2 anos finalmente tinha acontecido. A vida seria bela novamente, todo sofrimento se tornaria secundário e os encontros nos salvariam das mazelas do mundo. 
 
Naquele momento, mesmo esperançosa com a luz no fim do túnel, aconselhei vários amigos: aproveitem para viver, porque pode piorar. 
E cá estamos. Entrando no terceiro ano de pandemia com casos a mil. Torcendo para que os infectologistas e cientistas não desistam de nós a cada nova variante; para que os pais tenham um choque de lucidez e vacinem suas crianças e para que a gente ainda consiga sonhar mesmo tendo um desgoverno tão imbecil. 
 
Pega na minha mão, leitor.
Vamos fechar os olhos e viajar pra longe. Pelo menos por um tempo. Depois a gente abre os olhos novamente, mergulha no trabalho (sorte a nossa que temos um trabalho a recorrer) e continua vivendo apesar de. 
Se cuidando e cuidando para que nenhum dos nossos adoeça. 
A nossa opção? Ser resiliente. É isso ou morrer. 

Vamos cuidando do nosso canto, das nossas plantas, do nosso afeto. Vamos mergulhar nos nossos livros, na nossa família, nos whats app de quem gosta da gente. Vamos puxar a coberta e curtir um filme sem olhar no celular. Vamos ter esperança. Ajudar quem precisa. Ser gratos pela vacina. Acreditar que a próxima eleição nos dará um alento. Entender que agora não é exatamente a hora de planejar. Ler newsletters que dão um quentinho no coração (aproveito aqui para indicar a ótima da Bárbara Heckler, ela escreve quinzenalmente com a Camila Camargo e sempre traz reflexões majestosas sobre a vida e sobre o seu trabalho no audiovisual). 
 
Vamos acreditar, amigos. Agarra comigo esse micro otimismo que nos resta para seguirmos em frente. Vou citar aqui um perfil de uma amiga que eu adoro, a Carol Cury. Esses dias ela postou: tendemos a banalizar o que parece certo em nossas vidas. Se a gente acorda com saúde, cérebro funcionando, corpo ativo, chuveiro quento e comida pronta é “normal”, é o esperado. Mas nada disso é banal, ter tudo isso é um privilégio. 

Sim. Dias melhores virão mas não deixem de olhar para os dias atuais, eles também são vida e estão acontecendo. 
 
Fiquem bem <3 
 
Um beijo,
Volto logo.
 
Se quiser se abrir e conversar sobre algum texto que fez sentido pra você, 
 pode me escrever, respondendo a este e-mail, vou adorar :) 
 
 
*Um rascunho perdido*
(textos meus escritos em algum lugar do passado) 
 
Image item
Na esquina da avenida principal da cidade, alguns alunos pintados, sujos de terra, e com ovos no cabelo pediam dinheiro para os motoristas e pedestres pela rua. Eles tinham passado no vestibular, era o famoso trote de comemoração. Na roda dos estudantes, paixões adolescentes, euforia pós-colegial e sentimentos genuínos que estão à flor da pele aos 16 anos. Eu passei por eles e voltei 10 anos atrás, quando os meus amigos na época foram de surpresa lá em casa, com também ovos e farinha, festejando minha aprovação no vestibular - me cobrindo de alegria, tinta e tudo mais o que tinham trazido. Descemos juntos até à avenida, pedimos dinheiro para os carros, rimos aos montes. Naquele dia, estava eu lá nesta esquina, ao lado dos melhores amigos da minha vida, comemorando minha ida à são paulo e uma nova fase que eu tinha vontade e medo de conhecer. 
Entre os meus amigos também havia o garoto que eu gostava, e a já saudade de prever que amores adolescentes ficam mais na cabeça que nos dias reais. Hoje à tarde, passei por esses estudantes como espectadora, como alguém que admira o espetáculo de longe a pensar, aos 27 anos, que - puxa - como caminham depressa os anos. E quanto mais os observava, mais frescas ficavam as minhas memórias. Foi como visitar o cenário de uma novela que já acabou. Fiquei a vê-los como quem já foi protagonista daquela mesma cena, e hoje assiste de longe, pra curar a nostalgia - exatamente como farão esses vestibulandos um dia, imagino. De fones nos ouvidos, pensei - a vida são momentos, deixe-os passar. 
Nos mesmos fones tocava - "gone...she's gone...".

Clara Vanali

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Sobre

 

Sou jornalista mas penso que ser jornalista é mais sobre investigar. Ser escritora é mais sobre observar. Aqui, me sinto mais escritora do 

que jornalista. Prazer, Clara ;)