Quando eu vim para o Brasil em Dezembro do ano passado com uma passagem só de ida eu sabia que ia ser um desafio. Não apenas eu estava mudando temporariamente de casa e de país com meu namorado e nosso vira-lata caramelo de 15 anos, como eu ia ter que começar de novo a minha carreira.
Na verdade, não é muito justo dizer 'começar de novo' já que eu já vinha com a experiência, o conhecimento, o portfólio e o planejamento… mas ser uma fotógrafa nômade significa que em todo lugar onde eu aterrizo eu preciso ativamente ir atrás de clientes - ao menos que eu tivesse muitos seguidores o que não é meu caso.
Então eu me vi chegando no meu ponto mais baixo: ansiedade lá em cima, sem saber por onde começar (já que no nosso país amado 'o ano só começa depois do carnaval'), então eu não tinha muita perspectiva sobre aonde e quando encontrar clientes. E o que não ajudava era o fato de que nós não tínhamos só um destino no Brasil, o plano é ficar transitando pelas nossas cidades preferidas até cansar.
Foi então que comecei a pesquisar por cursos sobre posicionamento digital e criação de produtos digitais - já que sempre foi um passion project e que estou começando a executar agora. E ao que eu clicava em links de cursos e seguia recomendações da internet, o algoritmo começou a fazer o que faz de pior: afunilar todo o conteúdo para coisas do tipo ‘como faturar 6 dígitos vendendo seu produto digital', 'como planejar o lançamento perfeito' e, pior, 'como receber milhões de respostas aos seus stories com apenas alguns seguidores'.
A quantidade de pessoas vendendo tudo o que você possa imaginar no universo digital é impressionante. Não me entenda mal, eu amo saber que existe espaço para todo mundo vender produtos ou serviços digitalmente e eu acredito que se você quer vender algo, provavelmente exista alguém querendo comprar. Do contrário, eu não estaria fazendo isso também.
O problema, pra mim, não é a quantidade de pessoas vendendo online, mas o risco de ser encurralada pelo algoritmo nas mãos de quem tem uma abordagem de vendas extremamente agressiva quando estamos no fundo do poço e mais suscetíveis a isso. Aqueles cuja abordagem é fazer você acreditar que você não é boa o suficiente, esperta o suficiente e rica o suficiente, mas se você pagar 1200 reais você pode quase chegar lá.
E O INTERESSANTE FOI PERCEBER QUE MESMO TENDO O DISCERNIMENTO PARA DETECTAR QUANDO UM PITCH DE VENDAS TEM COMO ESTRATÉGIA FAZER VOCÊ SE SENTIR VULNERÁVEL PARA DEPOIS TIRAR VANTAGEM, AINDA ASSIM EU ESTAVA CAINDO NESSA 'ARMADILHA'’
E eu não quero nem de longe me colocar como vítima dessa situação. Tenho clareza de ser responsável pelo que consumo e no que decido acreditar. Mas o algoritmo não ajuda. Ele continuava me mostrando um universo de perfis que me faziam acreditar que eu precisava ter uma estratégia clara de redes sociais, um editorial, um pitch de elevador, me vestir 'like a boss', acordar as 5 da manhã e malhar de 6 a 7 dias na semana - e somente se eu fizesse tudo isso eu podia ter uma chance com o sucesso.
E aqui vai minha honestidade brutal: eu comprei um produto que prometia entregar 'stories de ouro' e 'ajudar a inundar minha inbox com mensagens de clientes'. O produto era bom, muito bem feito e produzido, trouxe umas perspectivas interessantes e várias técnicas de 'engajar nos Instagram' que eu nunca teria sacado sozinha. Mas não era o produto pra mim.
Eu até testei algumas dessas técnicas. Mais que isso: eu criei um editorial de 3 meses junto com um planejamento de tudo o que eu precisava fazer, pensar, postar e dizer, e eu prometi pra mim mesma que ia seguir o plano. Nesse processo eu tive idéia de várias coisas que eu podia me forçar a aprender só pra que eu pudesse capitalizá-las. Eu fiz o compromisso comigo mesma de acordar as 6 todos os dias, malhar, e então colocar 12 horas de trabalho todos os dias se eu quisesse ter resultados.
Nada disso aconteceu.
O que me fez pensar vários pensamentos auto-depreciativos, claro. Até que eu entrei no instagram de uma fotógrafa que eu sempre acompanhei e com quem já aprendi muito desde que comecei na fotografia, a
@IndiaEarl.
Ela é uma pessoa em quem eu sempre me inspirei não somente pelo trabalho artístico que ela faz mas pela forma como ela leva a vida com a mesma leveza que ela aborda suas vendas.
E isso foi um respiro.
E foi aí que eu me dei conta de uma coisa: porque eu estava me deixando influenciar por pessoas que tem uma visão de vida - e de vendas - tão opostas à minha, quando existem seres humanos incríveis com quem eu me sinto conectada (ainda que digitalmente) fazendo coisas tão genuinamente leves, e tendo o mesmo sucesso?!
Tenho certeza que muitos dos coaches, influenciadores e marketeiros digitais que estavam aparecendo nos anúncios pagos do meu instagram me vendendo coisas com uma abordagem agressiva diriam que eu estava sendo fraca, que eu não tinha foco e era indisciplinada.
Mas eu tenho muita confiança no meu autoconhecimento pra saber que a razão pela qual eu não fiz nada do que eu tinha planejado lá atrás era somente porque tudo aquilo ia contra A MNHA FORMA DE VER E viver a vida: que é SER levE, seguir minha intuição e deixar fluir.
Quando eu me dei conta de que eu não preciso mesmo estar em todas as redes sociais, aprender a driblar o algoritmo, estudar sobre os 'doze segredos para ser uma influenciadora de sucesso' quando só o que eu quero é fazer arte, criar coisas lindas para os outros e me conectar genuinamente com pessoas, tudo voltou ao seu devido lugar.
Eu sei que tudo isso parece meio óbvio e eu não sou ingênua a ponto de acreditar que eu preciso ter seguidores pra ter sucesso.
Mas a questão é que quando a gente está no fundo do buraco com a vulnerabilidade nas alturas, nós ficamos tão mais suscetíveis em sermos influenciadas pela onda de pessoas que são 'erradas' para nós - e o algoritmo continua jogando eles no nosso feed um a um.
Até a gente encontrar o caminho de volta para a praia e começar a nadar de novo na direção certa.
Claro que hoje eu ainda estou enfrentando minha dose de desafios, profissionalmente falando. Eu estive em São Paulo por mais ou menos um mês, agora eu to no Rio e eu nem sei por quanto tempo ou pra onde vou depois (e ainda é Fevereiro).
Mas eu decidi que já que eu to vivendo essa vida cigana incrível com os meus meninos preferidos (eu conto o cachorro como um menino), no verão carioca com rede, chopp gelado e samba, ao invés de permitir com que os desafios do meu trabalho se tornem o protagonista da minha vida, eu decidi focar naquilo que me dá verdadeiro prazer no que eu faço: criar arte e conexão.
E foi por isso que eu criei essa newsletter que é meu lugarzinho para quebrar todas as 'regras para um posicionamento de sucesso': que é ser o meu eu mais verdadeiro, genuíno, sincerão e quebrador de regras e nunca, nunca 'fake it till I make it'.
Então se você leu até essa frase e concordou com alguma coisa que eu disse, deixa eu te contar uma coisinha: você já é parte do meu Renegade Collective.
Obrigada por estar aqui (e eu espero que você fique mesmo depois desse monte de texto).
*As regras que eu estou quebrando claramente incluem 'ser sucinta e breve em suas newsletters'.