13 #décimo 
terceiro gole
 
Oi, tudo bem por aí?
Bora pro décimo terceiro gole? 
(me deem uma colher de chá hoje porque me empolguei e o gole está um pouco mais longo)
 
Tem coisas que fazemos lá nos 20 e poucos anos e depois - quando se está com 34 (meu caso) a gente pensa que jamais faria da mesma forma. Mas, por outro lado, agradece por ter tido a coragem de ter feito. Aliás, se eu pudesse resgatar uma característica minha da juventude seria essa mesmo: coragem. E a sua, qual seria?
 
No meu último ano de faculdade, fui passar 15 dias no Rio de Janeiro por conta de uma oficina de produção de vídeo do Canal Futura. A emissora escolheu 30 alunos do Brasil para passar uma temporada carioca com eles e produzir peças audiovisuais. O lance é que, naquele tempo, o Orkut estava no auge e por isso, todos os estudantes selecionados começaram a se falar virtualmente antes mesmo da viagem. Como não tínhamos dinheiro pra nada, reunimos um grupo e decidimos que a nossa hospedagem seria num albergue lá em Botafogo (o lugar chamava El Misti). Que de místico não tinha nada, mas nada melhor do que economizar reservando um único quarto para 8 (!) pessoas.
 
Quando chegamos no lugar, vimos que o quarto era minúsculo, havia bicamas de 3 andares, um ventilador bem barulhento (para um rio de janeiro quente) e travesseiros que mais pareciam esponjas de lavar louça. A roupa de cama nem preciso comentar e o banheiro era bem estranho - o único, aliás, disponível para outros 6 ou 7 quartos igualmente lotados (alô, infecção urinária). Fora que o nosso quarto era misto, tá - homens e mulheres (lembrando que estávamos nos conhecendo pessoalmente naquele momento, ninguém sabia se havia um serial killer no grupo). Também não havia espaço para colocar nossas malas, a porta do quarto não tinha tranca...enfim, bem-vindo ao caos.
 
O fato é que alguma energia interestelar nos iluminou naquele momento. Todos do nosso grupo eram incríveis, pessoas de bom coração que eu só tive a oportunidade de conhecer porque o El Misti nos uniu ;) Que sintonia. Fizemos uma amizade sincera que nos uniu naqueles 15 dias de Rio e fez de nós, um grupo que só se separou quando nos despedimos no aeroporto e cada um voltou pro seu Estado (uma despedida de lágrimas, a propósito). Eu acabei não dormindo no albergue por muito dias, na metade do percurso me hospedei com mais 2 amigas em um hotel (também simplinho, suspeito e numa região bem isolada) na Lapa - mas cujo banheiro era aceitável. 
No entanto, a experiência El Misti rendeu pra gente uma viagem cheia de novos amigos, risadas e o veredito de que os perrengues sempre entregam as melhores histórias.
 
Isso foi em 2008.
Indo um pouco mais pra frente, em 2011 resolvi morar 1 mês em Nova York. Juntei minha grana das férias na Editora Abril e aluguei um quarto numa residência estudantil. Chegando lá, o quarto era puro cabelo no chão e na cama. Pra minha sorte havia um super mercadão ali perto (os Estados Unidos tem uns mercados ótimos em que você encontra de roupa de cama a cadeira de praia), comprei uns produtos de limpeza, uns panos de chão, um edredom e um travesseiro. Era o que eu precisava pra dar uma tapeada naquele quarto que seria minha moradia por 30 dias. E funcionou. Até hoje penso que foi o mês mais feliz da minha vida. Sentia tanta alegria em estar ali visitando museus, parques, bibliotecas, exposições, empórios, restaurantes, bares, que tinha pena de dormir à noite e perder tudo o que aquela cidade podia me mostrar.
 
Moral da história.
Nos dias atuais, quando viajo, não troco por nada um bom hotelzinho com roupa de cama limpa e chuveiro quente. E me sinto feliz por ter o privilégio de poder escolher um lugar honesto para me hospedar sempre que preciso. Mas me conforta saber que, naquela época, eu não deixei de me dar a oportunidade de viver experiências que até hoje me trazem uma lembrança gostosa. 
Coisa boa a juventude. A gente tem menos medos, não fica imaginando tantas coisas ruins e tem mais esperança nas pessoas ao nosso redor - encara o "vai dar tudo certo" e segue os dias. 
Já a vida adulta nos cria uma casca que fica querendo nos preservar de tudo a todo momento. A gente pensa mil vezes antes de qualquer oportunidade inédita que aparece pela frente. 
O medo nos protege, é fato. Mas quando devemos criar coragem para descascar essa proteção? 
(me senti a própria Carrie Bradshaw agora terminando a divagação com uma pergunta.) 
 
E vocês?
Tem alguma história de perrengue que no final valeu a pena ter vivido? 
Vou ficar feliz se puderem compartilhar comigo :)
 
Mudando de assunto.
Achei ótima essa entrevista da Vanessa Rozan para o canal Universa, do Uol. Normalmente a gente tem mais paciência para assistir séries de capítulos longos nos streamings do que vídeos longos no Youtube. Por isso, gosto de indicar quando uma entrevista na web me leva a ver até o final. Nesta, a Vanessa sobre beleza, envelhecer, se aceitar (ou não) e julgamentos alheios. É um bate-papo bem gostosinho de acompanhar. 
Achei a coisa mais linda também esse cover da Adele. 
 
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É novo ou nova por aqui? Deixo aqui o Quinto gole pra você curtir. 
 
Um beijo,
Volto logo.  
 
 
 
*Um rascunho perdido*
(textos meus escritos em algum lugar do passado) 
 
“Por favor, menos deslumbramento em redes sociais. Lá dentro não há dias ruins e aquilo não é de verdade. Mais uma vez eu digo, nem tudo é aprendizado e força. Às vezes é uma fase ruim mesmo e o único problema disso é que ninguém quer assumir uma queda sem dizer que esta lhe trouxe uma percepção maior de mundo.”
 

Clara Vanali

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Sobre

 

Sou jornalista mas penso que ser jornalista é mais sobre investigar. Ser escritora é mais sobre observar. Aqui, me sinto mais escritora do 

que jornalista. Prazer, Clara ;)