Oi, tudo bem com vocês?
Vamos pro décimo sétimo gole?
Já avisei minha irmã que, quando eu morrer, se ela falar que o céu está em festa, eu venho puxar o pé dela. Detesto essas “frases-conforto” que as pessoas criam para lidarem melhor com o fato de que uma pessoa que você ama demais, morreu.
Esses dias vi uma entrevista em que uma mãe, que perdeu sua filha, disse que se permitiu chorar por 2 dias, pois a filha não iria querer vê-la sofrer mais do que isso. Pois confesso que se minha filha morresse, eu choraria a vida inteira - quer ela ficasse feliz com isso ou não.
Sempre achei uma merda a morte. Sempre me indignei. Pessoas boas se vão e não me venha com esse papo de que a hora delas chegou. Faça meu favor. A gente já presenciou bastante tragédia no mundo pra saber que esse relógio da eternidade é bem injusto.
Tô falando disso porque nos últimos 2 anos pandêmicos todo mundo conviveu com a morte de perto - vendo listas de nomes e histórias interrompidas - e também se arriscando, todas as vezes em que saímos de casa.
Lembro quando, muitos anos atrás, fiquei sabendo da morte do
Daniel Piza. Daniel era jornalista, colunista do Estadão nos tempos áureos e a pessoa mais didática que eu já conheci para ensinar história da arte. O cara mais inteligente que já houve. Ele era capaz de falar de qualquer coisa com propriedade e fazia a gente querer ficar perto pra tentar absorver aquele tanto de conhecimento.
O ano era 2011, eu estava em Araçatuba durante o fim de ano - minha mãe prendia bobs no meu cabelo - quando a rádio deu a notícia da sua morte por AVC. Ele também estava com sua família passando as festas de Natal numa chácara quando, de repente, aconteceu.
Eu não era próxima dele, mas ele havia sido meu professor naquele mesmo ano, e por isso, senti uma dor profunda pela malvadeza da vida em levar um cara de 41 anos, com uma lucidez de mundo rara e com um catálogo de sonhos pela frente.
A vida nunca nos prepara para o sofrimento. A gente aprende na marra e quem dera não tivéssemos que absorver aprendizado dessa forma. Sabe aquela frase: é na dor que a gente amadurece? Acho uma besteira também. Antes amadurecer na felicidade do que aos prantos.
Este fim de semana recebi em casa um dos meus melhores amigos para tomarmos café da manhã juntos. E neste encontro ele me contou que se tornou deficiente visual por uma doença genética ocular que o acometeu e que tem poucas chances de cura.
Preparei uma mesa linda de café pra gente com cores, frutas, chocotone e brioche. Mas quando ele chegou, me vi descrevendo tudo o que tinha na sua frente para ele escolher o que gostaria de comer - já que ele só conseguia enxergar vultos. Brabo. Fiquei feliz por estarmos juntos naquele momento mas gostaria de ter poderes para evitar que ele passasse por isso.
Também tô pessimista com o Carnaval. Não vejo motivos para o país realizar a maior festa da aglomeração já vista numa fase em que nem superamos a covid. Sei que é business, que muitas pessoas sobrevivem do trabalho nesta época mas misturar gringos, brasileiros, nova variante, suor, beijos e zero máscara num mesmo local, não me parece uma boa ideia.
Desculpe ter pesado a mão na newsletter desta terça.
Sentei e desafoguei.
Fiquem bem.
Sejam gratos pela vida, não romantizem o sofrimento e cancelem o carnaval.
Mudando de assunto.
Cheguei atrasada no novo CD da Billie Eilish, mas não posso deixar de ovacionar a construção da letra e melodia de
Happier Than Ever (
com um clipe igualmente maravilhoso). Adoro como a música vai ganhando potência até desabar/desabafar com tudo. Ainda deste novo trabalho dela,
isto aqui é gostoso demais de ouvir.
Um beijo,
Volto logo.