Oi, tudo bem com vocês?
Vamos pro décimo oitavo gole?
Sou do tipo de ateia que faz o sinal da cruz três vezes antes do avião decolar.
E que nas noites de desalento pede em pensamento: deus, me ajuda.
Sou do tipo de ateia que, anos atrás, estava doente em uma cama quando escutou um sussurro no ouvido dizendo: vai pra casa.
E indo pra casa, pro lar onde eu nasci, foi onde encontrei um médico que me ajudou a sair da depressão e a não morrer.
A minha fé não tem coerência, mas Deus também não tem.
Então prefiro vê-lo dentro de cada sentimento bom que eu sinto aqui dentro, e a cada lucidez que, junto da minha intuição e o abraço do universo, me protegem da má sorte e dos eventos ruins.
Eu gosto de pensar em Deus como a natureza que embala eu e meu sobrinho jogando pedra no rio. Como quando eu ligo pra minha mãe só pra gente fazer solidão uma pra outra.
Gosto dele quando me traz uma companhia boa pra garrafa de vinho. E quando fica balançando as árvores enquanto estou viajando de carro.
Gosto de Deus quando tô deitada na rede do rancho, e ele faz os pássaros cantarem mais alto que as cigarras. E quando meu pai pega uma cadeira e senta do meu lado só pra ficarmos em silêncio juntos. Dizem que você tem que ter muita intimidade com alguém pra conseguir ficar em silêncio com ela.
Deus já apareceu na sensação de adormecer à tarde no sofá de casa e acordar com a energia de uma manhã.
Também me deu coragem pra ir trabalhar em hospital no auge da pandemia e a lidar com o medo enquanto esperava as coisas melhorarem.
Imagino que ele esteja no sol. Sempre me sinto feliz com céu ensolarado. Também o vejo no barulho da água que bate no piso do quintal lá de casa quando dá um chuvão, e na sintonia que tenho com os amigos que fiz em holambra. Talvez por morarem em um lugar de flores, que são sagradas, eles se tornem abençoados também.
Sou do tipo de ateia que quando se despede de alguém muito querido, nunca esquece do: vai com deus. Assim, sei que eles estão partindo encapsulados por uma grande acolhida.
Durante todos os anos dos meus 34, sempre me senti protegida. De várias formas. Por viver com meu coração. Por ter uma família que me colocou pra dormir quando eu já fui insônia. Por ter a presença de amigos que não estão perto de mim só na hora de se sentarem numa mesa de bar.
Essa é minha religião.
Fiquem bem <3
Me emocionei muito escrevendo este texto.
Mudando de assunto
Assisti ao
documentário da Tina Turner, disponível na HBO, e achei massa demais lembrar que a Tina foi uma artista que atingiu seu auge, como uma gigante do rock, aos 50 anos (!).
E você aí pensando que não dá mais tempo de fazer nada. O doc fala bastante do relacionamento abusivo com o seu ex-marido, o que dá pra entender porque é tão dolorido pra ela ficar revistando esse passado a todo momento. Ela só queria viver o presente e deixar as recordações pra trás - enquanto a imprensa até hoje martela nessa história.
Fiquei pensando que a gente que escreve textos, livros, newsletters, tá sempre cavucando o passado…mas eu concordo com ela. Pra seguir em frente o melhor é trancarmos tudo numa mala, jogá-la no rio e vê-la boiando sem tentar resgatar.
Quem consegue?
Um beijo,
Volto logo.