20 #vigésimo gole
 
Oi, tudo bem com vocês?
Vamos pro vigésimo gole? 
 
E pensar que a ideia desta newsletter veio de um gole numa sexta à noite. Talvez por falta de uma companhia, talvez pelo cansaço do isolamento ou pela vontade de escrever coisas que eu gostaria de ler. Sabe quando você deita à noite na cama, pega o celular e tem vontade de escrever para alguém só pra conversar? Me vejo rolando o dedo nos contatos procurando alguém que não existe. É como sentir falta de uma pessoa que você ainda não conheceu. 
E essa newsletter, de certa forma, preenche a lacuna que existe no meu whats app. 
 
Pois então é Natal. E o que faremos ano que vem?
Antigamente eu era das listinhas. A gente quando é jovem é cheio de bater metas e acreditar que tudo depende inteiramente do nosso planejamento e vontade. Mas depois de uma pandemia e de centenas de fatos ao acaso - que nos impede de querer controlar tudo - tenho a impressão de que, na nossa lista, deveria conter apenas: 
 
- sobreviver;
- sair sempre que alguém convidar;
- comer direito mas jamais evitar chocolate; 
- praticar exercícios sem exagerar;
- se divertir no trabalho (nem que seja minimamente);
- deixar o passado pra trás (de uma vez por todas). 
 
Este último tópico eu quero que de fato signifique algo pra mim, porque - na minha vida pessoal - eu sempre me martirizo por ter ou não ter feito isso ou aquilo, o que pode ter influenciado no meu destino de agora e sempre. 
Até uns anos atrás eu vinha pra minha cidade natal, Araçatuba, e via tudo como um grande Projac - com cenários de novelas as quais eu fiz parte e que, depois que terminaram e os atores foram embora, os cenários ficavam apenas para me lembrar de cada cena que eu vivi, de cada errinho que cometi e de cada decisão que mudou todo o rumo da minha vida. 
Take it easy. 
Perdoem-se. Vamos enterrar o passado. As decisões daquela época foram as que, do fundo do nosso coração, pareciam certas. E muitas delas estiveram sob a camada da imaturidade - que nos impede de visualizar o contexto com a clareza que temos hoje. Let it go. Quero que os meus 35 anos sejam apenas eles, sem arrastar um caminhão de culpa. Desejo, acima de tudo, liberdade. Pra mim e pra você. Que estejamos livres no próximo ano para nos dar a chance de curtir cada dia como um evento digno de ser vivido sem julgamentos. Sem fantasmas. Minha meta para 2022 é essa. 
 
E a de vocês? 
Fiquem bem <3 
 
Mudando de assunto. 
Gostaria que mais personas como a Miriam Bottan tivessem destaque nesse mundo controverso das redes sociais. A Miriam faz um trabalho muito sensível de conscientização de saúde mental, aceitação do corpo e felicidade em ser aquilo que se é. Em vez do #projetoverão, ela prega o #projetovidão - com postagens ótimas e necessárias sobre aproveitar a vida e o corpo que se tem, neste exato momento. Este vídeo produzido por ela foi a melhor coisa da internet na última semana.  
 
Um beijo,
Volto logo.
 
E se quiser reviver newsletters anteriores, aprecie o Terceiro Gole.
 
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Você também pode me escrever, respondendo este e-mail, vou amar. 
 
 
*Um rascunho perdido*
(textos meus escritos em algum lugar do passado) 
 
O Escafando e a borboleta
 
Coloquei um pedaço pra ver hoje cedo. E segui até o final.
Escafandro é um filme que eu gostaria de ter feito. 
Bonito. Bonito de doer. De chorar. De assistir a vida toda.
Jean Bauby só mexe o olho. Acidente vascular cerebral. Mas fala o tempo todo em pensamento. E vai lembrando…de quando fazia essas coisas gostosas que a gente faz todo dia…andar, comer, beber, fazer a barba, dirigir, espirrar, pentear os cabelos.
E eu que mexo os olhos, as mãos, os dedos, os cílios, as pernas, os pés ….estou perdendo alguma coisa?
 
Não acredito em céu, amigos. Não vejo vida após a morte.
Acho a vida maravilhosa e triste todos os dias. Nos vejo festejando todos os dias. 
Gosto de festejar todos os dias. De amar todos os dias. E achar essa árvore de natal aqui do meu lado bonita. Se pudesse tirar uma foto mental, seria da janela da sala aqui de casa com o meu gato passando sobre ela. 
Acredito mais em acasos fabulosos do que em destino. 
Sou otimista nesta vida e pessimista pós-morte. 
Vejo o ser humano como um mestre do ilusionismo por criar uma casa de bonecas. Trabalhamos. Pagamos conta. Criamos problemas. Resolvemos problemas. Vamos à manicure. Cortamos o cabelo. Fazemos compras. Arranjamos dramas. Engraxamos o sapato. Passeamos com o cachorro. Vivemos sem fim. 
Somos inconformados. Criamos Deus. Mantemos a mente ocupada. 
Combatemos o tédio. Estamos sempre nos distraindo. 
Eu sei. Morrer é mesmo uma pena.
Um dia não vamos todos nos encontrar. Os mortos com os pré-mortos. Não vamos. 
Talvez semana que vem se marcarmos um café. Digo, vivos com vivos.

O fim da vida é tão doloroso que só nos resta deixá-la bonita. Comemorarmos o réveillon. Torcermos por mais dias. Desejarmos que os aviões não caiam. Que os carros não corram. Que não tenhamos um ataque cardíaco. Um derrame. 
Que dê tempo de fazer mais um monte de coisas não importantes. 
E de eu treinar mais um pouco meu breve repertório no violão.
 
Escafandro é tão bonito que corta. É um filme que abraça nossa dor escondida e abre caminho neste monte de distrações.
Acabei o filme e voltei pra vida. Pra janela em que passa o meu gato. Para as balas de café em cima da mesa. Para eventos desimportantes. Para esse monte de beleza e para esses dias descompromissados no interior, cheios de tempo. 
Eu tenho vontade de chorar várias vezes. Sinto emoções instantâneas. Daquelas que aparecem nos momentos bonitos e me trazem saudade imediata.
Tem sido dias tão bons.
Que a vida não os leve de uma vez.
 

Clara Vanali

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Sobre

 

Sou jornalista mas penso que ser jornalista é mais sobre investigar. Ser escritora é mais sobre observar. Aqui, me sinto mais escritora do 

que jornalista. Prazer, Clara ;)