27 #vigésimo 
sétimo gole
 
Oi queridos, tudo bem?
Vamos pro vigésimo sétimo gole?
 
Às vezes a gente nem sabe que está precisando de alguma coisa até ela acontecer. Fiquei os últimos 15 dias no Nordeste a trabalho, hospedada dentro de um imenso viveiro de plantas.
Baita sorte, né? Às vezes esperamos uma viagem pra outro país ou uma programação de férias pra fazer daquela experiência algo inesquecível - mas, desta vez, posso dizer que foi uma das melhores viagens que fiz. É muito bom a gente sentir que pertence àquele lugar enquanto se está lá, sabe? 
 
Escapamos um dia para a praia. E não qualquer praia. Uma praia deserta. Ouvindo o próprio silêncio e o barulho do mar. Coloquei os pés na areia, com a água indo e voltando do corpo, com o sol penetrando na pele e sentindo que natureza nos dava uma segunda chance - de respirarmos sem máscara, mergulharmos de cabelo solto, acompanhados do vento e de uma manhã com tempo. Nos vi renascendo, a praia e eu. 
 
Também foi um tempo de conviver com mais pessoas. E pra mim - que gosto de ficar no meu casulo com meus livros, meus filmes e meu sofá, foi importante. Muito, aliás. Anos atrás eu costumava fazer festas de aniversário para 50 pessoas, mas com o tempo, e conforme fui envelhecendo, os amigos foram desaparecendo e me vi com menos gente por perto. E nessa viagem, tive gente do meu lado do café da manhã até o jantar. Me senti querida, acolhida e cercada de quem tinha muito a me ensinar. Sair do próprio universo faz bem.
Foi até estranho chegar em casa ontem sem ninguém me perguntando se eu tinha dormido bem, se tinha ouvido a chuva, se precisava de alguma coisa. Meu sofá quase me disse: - demorou, hein?! / - foi preciso, eu responderia.
 
Uma viagem, seja pra onde for, tem o poder de cura se você permitir. E fico feliz por meu trabalho me levar a destinos com pessoas de coração tão imenso. No viveiro, deitava às noites do lado da piscina pra olhar o céu com a Brenda, moradora dona do lugar e uma das pessoas mais puras que já conheci. Pois vou sentir falta de ter um céu irradiando em nossas cabeças antes do jantar. 
Eu gosto de São Paulo mas aqui não é Nordeste - a gente não vê estrelas todos os dias. 
 
Se Deus é a natureza, pessoas que vivem cercadas por ela estão mais perto de Deus. E foi assim que me senti nesses dias - rodeada pela ordem natural do voo das abelhas, do canto dos pássaros avisando quando iria ou não chover, das pitangueiras que - quando querem - soltam os frutos dos galhos avisando que estão no ponto de colher. Que a gente consiga viajar mais, porque são nesses momentos que saímos do automático e prestamos mais atenção em preciosidades fora do nosso mundo de sempre. 
 
Vocês já conseguiram fazer uma viagem aconchegante depois que a pandemia começou?
 
Mudando de assunto.
Assisti ao mais recente filme do Clint Eastwood, Cry Macho. 
Eu adoro o Clint - desde As pontes de Madison, em que ele chega pra bagunçar de amor a vida da Meryl Streep até todos os outros da sua carreira, em que ele é sempre o cara bravo e sisudo que acaba por salvar um conhecido da vizinhança. Clint é o tipo de cara que eleva nossa autoestima porque em seus filmes, no seu pior ou melhor, alguém sempre acaba se apaixonando por ele. Em Cry Macho, Clint já está bem velhinho (google me diz que ele tem 91 anos) e obviamente uma mulher se perde de amores por seus encantos. A história não gira em torno do romance mas ganha um tempero por conta disso também. 
Queria ter a segurança de Clint para flertar. 
O filme na verdade mostra a jornada de um ex-astro de rodeio (Clint) ao tentar trazer o filho de um amigo do México pra casa. Dá pra assistir comendo pipoca porque não tem altos tiroteios ou sangue. Recomendadíssimo por mim. 

Fiquem bem <3 
 
E se você está chegando agora, pode ser que curta também o 9º gole. 
 
Um beijo,
Volto logo.
 
 
*Um rascunho perdido*
(textos meus escritos em algum lugar do passado) 
 
Image item
não é das coisas grandes que eu sinto falta. veja bem.
é das pequenas. minúsculas.
hoje, enquanto meu pai tocava violão na sala, passou uma borboleta voando bonita por cima dele. fiquei brava por ela estar ali. serena, voando, tornando tudo mais difícil de se despedir. já não bastava a luz ensolarada no quintal. já não bastava meu gato em uma serenidade sem tamanho no colo da minha mãe. já não bastava a música me encher os olhos de água. ainda havia uma borboleta. tocando o ar devagar.
- por favor, voe longe.
que aqui já há beleza demais pro meu coração aguentar. 

Clara Vanali

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Sobre

 

Sou jornalista mas penso que ser jornalista é mais sobre investigar. Ser escritora é mais sobre observar. Aqui, me sinto mais escritora do 

que jornalista. Prazer, Clara ;)