30 #trigésimo gole
 
Oi queridos, tudo bem?
Vamos pro trigésimo gole?
 
30 newsletters! É um presentaço de aniversário que eu ganho nesta semana em que completo 35 anos. Abrir este espaço pra que a gente troque as nossas vulnerabilidades, desafogue os nossos goles e converse com um pouco mais de tempo me faz ter domingos mais prazerosos - que é quando eu sento e escrevo pra vocês.
 
Obrigada, de verdade <3 Tê-los aqui resgatou o meu amor pelas crônicas e meu sonho de, um dia, reunir tudo o que tenho escrito num livro. Quem sabe a gente não se encontra pessoalmente numa noite de lançamento? ;)
 
E vamos pro texto de hoje - que é sobre aniversários, mas também sobre renascimentos.  
Então, sem pressa, pega sua xícara de café. Ou sua taça de vinho - porque aqui não há julgamentos.
 
Quando completei 30 anos celebrei da forma mais descompromissada e querida que já houve lá no Mercearia, na Vila Madalena (que era uma mistura de boteco pé sujo com sebo de livros, servia pastel na calçada e tinha uma atmosfera mágica que lotava o quarteirão em noites de calor). O Mercearia era um dos meus lugares favoritos em São Paulo e infelizmente não sobreviveu à pandemia. Ainda assim, fico feliz de tê-lo aproveitado em muitos dias felizes d vida. E este aniversário foi um deles. Misturei minha turma antiga do Mackenzie, jornalistas que trabalharam comigo da Editora Abril e amigos de um grupo de corrida, que eu participava na época. Ganhei flores, livros, abraços, bebemos cerveja e cantamos parabéns - que por falta de uma vela foi embalado por um isqueiro aceso. Sem frescura mesmo. Todo mundo que tinha um significado estava lá.
 
O fato é que os meus 30 anos, que tiveram esse auge da alegria, também significaram muito mais pra mim. 
4 meses depois dessa festa de comemoração, eu fiquei muito doente. Começou com uma perda de apetite e depois com uma dificuldade imensa em dormir à noite. Não vou entrar em detalhes porque sofrimento a gente deve sofrer uma única vez, mas muito rapidamente fui acometida por uma depressão das maiores que alguém já teve. E meu caso não era algo que se resolvia com terapia ou meditação. Com ioga. Retiro espiritual. Com mudar o estilo de vida ou fazer exercícios físicos. Pode acontecer de, por motivos não tão objetivos, o cérebro adoecer e, quimicamente, por falta de uma substância A, B ou C você, de uma semana pra outra, ficar de cama e não conseguir mais se levantar. 
 
Parênteses aqui pra algo que eu me lembro muito bem: 
1 mês antes de ficar doente, eu já estava bem magra - pesava 10 kg a menos que hoje - mas circulando pelas redes sociais, vi um desafio da Bela Gil em que ela propunha 30 dias sem doce. Sem doce nenhum mesmo. Zero açúcar. 
E olha, não quero criticá-la, nem nada. Acho que faz parte do trabalho dela e, de tantas outras pessoas que estão na internet vendendo seu peixe, sugerir o que quer que seja pra alavancarem seus propósitos. 
Mas açúcar - contanto que você não tenha nenhuma comorbidade que te impeça de comê-lo - interfere na felicidade sim. Traz alegria, momentos de prazer, acolhe o coração. Não é o pedaço de bolo da sua padaria favorita ou um quadrado de chocolate por dia que irão atrapalhar sua boa alimentação. 
Mas eu, que já estava entrando num processo de tristeza, dei mais um passo pro abismo quando resolvi abraçar o desafio. Cortei doce. E meu corpo, que já estava bem magro, sofreu mais um baque. 
Aproveito pra deixar um alerta aqui e dizer que as redes sociais podem influenciar em adoecimentos sim: com comparações desnecessárias, buscas incessantes para nos superarmos e com propostas de uma rotina que nos fazem achar que os errados somos nós. 
 
Continuando a história, de julho a setembro dos meus 30 foi quando eu quase morri. Sabia pouco da doença, não encontrava profissionais certos pra me ajudar e fiquei patinando numa pré-morte que não parecia ter saída. Achei que minha vida se encerraria ali mesmo, aos 30 anos, e estava conformada com isso. 
Como eu disse, não vou entrar em detalhes, mas o final da história é feliz. Uma família que não desistiu, um médico realmente preocupado e remédios - que salvaram a minha vida - me fizeram em, pouco tempo, retornar à vida. A vida que eu achei que tivesse perdido. 
 
Escrevo isso porque aniversários me deixam emotivas desde então. 
Estar aqui hoje, com 35 anos, com uma empresa incrível, uma casa que eu amo morar, numa cidade que me completa, um sobrinho que é o mundo pra mim, uma família que me apoia em tudo, irmãs fodas que eu admiro, amores (que mesmo breves) me acompanham nos vinhos e, amigos, que me encontram onde quer que eu esteja, é benção demais. Todos os anos, desde os meus 30, me sinto duplamente grata e feliz. 
 
Ninguém escolhe ficar doente, amigos. E a doença, qualquer que seja, pode vir quando a gente menos espera - em um amigo próximo, em um familiar ou em nós mesmos. Você, que está lendo esse texto, certamente já passou por alguma situação em que achou que não fosse vencer, mas conseguiu e está aí, vivo. Por isso, desculpe a reação exagerada, mas me sinto feliz demais em celebrar os meus 35 com saúde em dias generosos que estão à disposição para que eu os aproveite. 
 
E eu não tô sozinha nessa. Feliz aniversário a todos nós. Que tivemos a oportunidade de recomeçar e nos entregarmos inteiros aos momentos que temos agora. Que oportunidade incrível. 
 
Aproveitem os seus aniversários, queridos, eles significam muito. 
A gente renasce a cada ano que amanhece. 

Fiquem bem <3 
 
Ah, e meu dia oficial mesmo é nesta sexta,18 de março :) E falando em 18, se você está chegando agora, pode ser que goste de ler também o 18º gole. 
 
Um beijo,
Volto logo.
 
 
*Um rascunho perdido*
(textos meus escritos em algum lugar do passado) 
 
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acordei sem esperar nada. a rua tava sem os barulhos das britadeiras de costume. fiquei pensando nos meus aniversários de uma vida toda que sempre reuniam muita gente, muita bagunça, muitos abraços. sempre me empenhei pra juntar os amigos mais queridos em confraternizaçōes que iam do boteco mais pé sujo ao restaurante mais gostosudo de jantar. mas hoje me pintei pra mim mesma, coloquei minha blusa florida preferida e fui mais cedo pro escritório. tava esperando o silêncio, porque tá todo mundo tão isolado que até de comemorações virtuais as pessoas devem estar cansadas. mas poxa, que massa ter baixas expectativas e o dia ser cheio de mensagens. de bolo de abacaxi com cocada. de garrafa de vinho esperando na portaria. de arranjo floral com a pedra do meu signo. de ligações de gente do país e fora dele. eu amo quem ainda telefona. e amo também recadinhos nos stories, instagram, facebook e what’s app. foi um dia tão bonito no meio do caos. tão esperançoso nesta guerra. deu vontade de sorrir ao lembrar que as pessoas que cuidam e se importam com a gente são a nossa única chance. e elas existem, acreditem. obrigada por todo amor de quem chegou mais perto hoje e de quem tá sempre por aqui. desejo pros meus 34 anos que a vacina nos traga a chance de viver com menos medo e que a gente tenha oportunidade de, num dia não muito distante, ter um governo que lute por nós. 
happy birthdays ⭐️🎈

Clara Vanali

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Sobre

 

Sou jornalista mas penso que ser jornalista é mais sobre investigar. Ser escritora é mais sobre observar. Aqui, me sinto mais escritora do 

que jornalista. Prazer, Clara ;)