37 #trigésimo 
sétimo gole
 
Oi, como vocês estão?
Vamos pro trigésimo sétimo gole?
 
O tempo é um senhor precioso. 
Esses dias minha irmã do meio, que mora em Araçatuba, me mandou uma foto do meu sobrinho de 4 anos na cama da minha mãe, vendo tv com meu pai. Os dois tranquilos sabe, com as pernas pra cima, sem pressa da tarde passar. Virei pra minha irmã mais velha, que mora comigo em São Paulo e disse: que bom que o Benício está aproveitando a companhia deles né, porque depois que crescemos, a gente para de visitar os avós. 
 
Quando eu era criança, minha avó tinha uma sorveteria. E imagina o que era para uma criança ter um avó com uma sorveteria. Nas nossas férias escolares, eu e minhas irmã passávamos o mês inteirinho em Catanduva, ajudando minha avó no negócio, tomando sorvetes de massa e picolés infinitos, terminando o fim de tarde conversando na calçada. A gente tinha tempo. A gente tinha a infância. E a infância é uma senhora sábia, porque ela consegue combinar o tempo das crianças com o tempo dos avós. 
 
Quando eu me mudei pra São Paulo e comecei a fazer faculdade, meu tempo ficou curto. Eu estudava de manhã, estagiava na TV Universitária à tarde, e me lembro de, muitas vezes, no telefone com a minha avó, ela me dizer: quando tiver um tempinho vem ver a gente. 
Mas eu não tinha tempo. Ou melhor, quando a gente cresce, a gente acha que não tem mais tempo de pegar um ônibus e viajar até Catanduva para ver seus avós, porque ainda vai ter muito tempo para vê-los. Mas a gente não tem. Porque a velhice é uma senhora rápida, ela dura pouco. 
 
Minha avó, um certo dia, ficou doente. Peguei o primeiro ônibus na minha frente e cheguei lá bem rápido. Em uma semana ela morreu. O nosso tempo já estava perdido. Fiquei pensando por que é que a gente nasce criança e envelhece com tanto tempo disponível, mas na vida adulta não tem tempo pra nada. 
É que a ilusão de estarmos no auge da nossa capacidade criativa, estudando, trabalhando, conhecendo pessoas, nos faz achar que o tempo vai permitir que todos esperem por nós. Mas o tempo dos outros também passa e quando a gente vê, já não se encontra mais no mesmo tempo-espaço. 
 
Por isso, hoje, quando vejo o Benício curtindo com os avós, não consigo deixar de pensar que a infância é a dona do tempo, porque aos olhos da criança, todo mundo merece a mesma atenção - nenhum curso, faculdade, relacionamento ou amigo, é mais importante que os avós - que dedicam o único tempo que tem, a nós.
 
Fiquem bem <3 
 
A foto dessa edição é da mão do meu sobrinho enquanto brincava na copiadora - achei uma boa marcação do tempo.  
E se você está chegando agora, pode ser que goste de ler também o 28º gole.
 
Um beijo,
Volto logo.
 
 
*Um rascunho perdido*
(textos meus escritos em algum lugar do passado) 
Image item
 
feira de garoa. de frio. precisava de um vaso novo de hortelã, de outro pacote de tapioca, de tomates frescos para a festa à noite. encontrei luiza, também jornalista. moramos juntas numa pensão em meados de 2005, época de inícios, de ansiedades agudas. de sonhos pra começar. que bom que o tempo passa, que os dias são melhores, que o coração sossega. outono é época mexerica. de mamão vermelho. de amar terças-feiras. 
dizem que meu signo, peixes, não volta mais para este mundo. é a última reencarnação. aproveite o que puder. pois se de fato o for, que alguém um dia diga por mim, que a vida é maravilhosa. 
 

Clara Vanali

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Sobre
 
Sou jornalista de formação, tenho uma produtora de vídeos como ocupação, mas aqui, nestes goles,  eu apenas escrevo. 
 Prazer, Clara Vanali ;)