Oi, como vocês estão?
Vamos pro quadragésimo primeiro gole?
No filme
A Chegada, de 2016 (um dos meus preferidos, se você ainda não viu, veja, por favor), a personagem vivida pela Amy Adams começa a ter memórias de um futuro que ainda não aconteceu. O filme se vende como ficção científica mas, na verdade, é sobre amor, perdas e, principalmente, escolhas.
No longa, Amy decide ter uma filha mesmo sabendo que, no futuro, a filha vai morrer de uma doença rara. Ela adquire essa capacidade de prever os acontecimentos por causa de uma conexão estabelecida com alienígenas.
O fato é que seu marido fica revoltado por sua esposa ter escolhido gerar uma criança que, inevitavelmente morrerá muito jovem, e por discordar disso, abandona as duas e segue por outro caminho.
Sempre que revejo o filme, fico pensando nas nossas próprias escolhas diárias.
Porque mesmo sabendo que nossos filhos podem morrer antes que nós, a gente decide tê-los.
Mesmo sabendo da dureza do mercado de trabalho, a gente pede demissão.
Mesmo sabendo da dificuldade de se manter uma empresa, a gente decide
criá-la.
Mesmo sabendo que o avião pode cair, a gente viaja.
Mesmo sabendo que aquela pessoa vai nos magoar, a gente se apaixona.
Mesmo prevendo que a ressaca dói, a gente bebe.
Mesmo entendendo que o tempo afasta, a gente faz amigos.
Mesmo sabendo que a vida é finita, a gente faz planos.
Mesmo sabendo que vamos sofrer, a gente segue frente.
As melhores lembranças que teremos envolvem riscos mas, geralmente, envolvem amor também.
No auge da pandemia em 2020, todos os clientes da minha produtora de vídeos sumiram. E o único que sobrou foi um hospital, com uma demanda gigantesca de conteúdo pra produzir mas que, pra isso, precisava que fôssemos pessoalmente captar imagens e entrevistas no local. E hospital é um lugar que tem covid, profissionais da saúde e pessoas doentes.
Não tínhamos vacina na época, não vendiam máscaras nas farmácias.
Eu fiquei 15 dias em casa pensando no que fazer. Mas percebi que mais alguns meses daquele jeito, a minha empresa sofreria o baque e até quando ela resistiria? Pois me lembro de ser tomada por uma redoma de amor pelo meu negócio, com muita vontade de que ele não acabasse ali. Torci para que as notícias da época - que diziam que o vírus era mais leve em jovens - fossem certeiras, coloquei a máscara de pano (pois só haviam elas na época) e fui. Com medo de ficar doente, mas com um sentimento amoroso muito grande no coração, pelo o que construímos em 10 anos de empresa.
Eu sei que tive a sorte de ter uma escolha. Muitos negócios não puderem escolher. Poderia ter ficado doente, poderia ter dado tudo errado. Mas deu certo. Ganhamos fôlego com as produções do hospital e, depois de alguns meses, os demais clientes voltaram e a vida foi ganhando mais confiança com vacinas, informação e proteção.
Que escolha de risco você fez que mudou o rumo da sua história?
Quais escolhas você faz todos os dias mesmo sabendo que, lá no futuro, poderá sofrer?
Eu escolho escrever por aqui todas às terças, mesmo podendo não agradar, mesmo me expondo para quem eu conheço pouco.
Fiquem bem <3
Mudando de assunto.
Foi gostoso demais participar da
última edição da news da Camila e da Bárbara, lá da Pesquisa Talks. Coisa mais preciosa é essa rede de mulheres escritoras que se apoiam, se divulgam e trocam experiências.
Em uma das questões elas me perguntam:
O que você acha que está fazendo aqui, no mundo?
Eu eu digo, com o coração quentinho: Estou tendo uma oportunidade extraordinária de vivenciar dias. Eu acredito que os dias são muito poderosos e são nossa única chance: de troca com as pessoas, de aprender e ensinar. Acho engraçado quando alguém diz: e você acha que a vida é só isso? Que não há nada depois que a gente morre? Poxa, e cair água do céu quando faz calor, uma planta dobrar de tamanho dentro de um vaso e rolar de gargalhadas no chão com seu sobrinho é pouco? Pra mim é tudo, tudo suficientemente surpreendente.
E se você está chegando agora, pode ser que goste de ler também o 37º gole.
Um beijo,
Volto logo.