Oi queridos,
como vocês estão?
Quando entendi, aos 17 anos, que nunca mais viveria na casa dos meus pais, nunca mais ouviria o carro da minha mãe chegando com pão de queijo da padaria, ou meu pai balançando a chave ao abrir o portão, desabei com as minhas lágrimas no quintal de casa.
E de fato nunca mais voltei, nunca mais tive aquela rotina de casa. De passar o dia inteiro estudando pro vestibular, ir pra aula de educação física no meio da tarde ou ficar no telefone por horas com os amigos do colégio (já que estar só de manhã com eles não era o suficiente).
A adolescência é uma fase cheia de gente e a vida adulta é cheia de trabalho.
A gente sai de uma época em que as trocas são muito intensas pra, conforme envelhecemos, trocarmos menos e ficarmos mais no nosso casulo, com nossas poucas pessoas preferidas.
No último fim de semana, fui pro interior - pra essa casa em que morei antes de me mudar pra São Paulo - e quando abri a porta do escritório onde eu estudava, senti o cheiro da minha apostila de história. E essa coisa de cheiro é muito poderosa, né. Me trouxe o ano de 2003, eu tentando me adaptar ao colégio novo, à prova de história mais difícil que alguém podia inventar e mais todas as emoções que envolvem o crescer. E acho que por muito tempo, mesmo morando em São Paulo, eu demorei pra me desapegar de tudo o que tive que deixar em Araçatuba. Os amigos, os telefonemas, as conexões que supostamente durariam até a velhice.
Mas sabe, a gente tem uma urgência de ficar resolvendo tudo como se a vida fosse uma grande mesa de jantar, em que a louça tem que ser lavada imediatamente. E nem tudo é assim. A vida não é bem resolvida sempre. Nem tudo tem um ponto final, com uma reunião com as pessoas esclarecendo ponto A, B e C.
E eu aprendi isso na marra, depois de completar 17 anos em São Paulo.
Os cosmos finalmente se alinharam, sabe?
De certa forma, viver 17 anos em São Paulo, mesmo tempo que vivi em Araçatuba, fez com que o tempo viesse até mim com uma bandeira de paz e dissesse: você fez o melhor que pôde na época, guarde as lembranças com carinho e deixe-as.
E então, a saudade apertada que eu sempre sentia da minha juventude no interior se cessou. Araçatuba deixou de ser um fantasma de lembranças pra se transformar num novo lugar, em que eu volto pra ver meu sobrinho, meus pais e minha irmã. Sem o peso de carregar minha infância e adolescência nas costas.
Nem tudo precisa de um ponto final, mas se despedir integralmente das fases (nem que isso demore anos) faz um bem danado pro coração.
E se você está chegando agora, pode ser que goste de ler também o 27º gole.
Um beijo,
Volto logo.