57 #quinquagésimo
sétimo gole
 
Oi queridos,
como vocês estão?
 
É uma maluquice pensar no tanto de distrações e tecnologias que temos hoje e, na quantidade de telas e opções de entretenimento que nos é oferecido quando, nos anos 80/90, o que fazíamos pra passar o tempo era pegar uma cadeira e sentar na calçada pra conversar. Telefone fixo era um trem caro. Televisão trazia poucas opções. A gente não tinha o celular pra ficar olhando a cada 5 minutos. Éramos só nós mesmos.
 
Catanduva, cidade dos meus avós maternos - que já faleceram - é o lugar que mais me emociona, por ter sido uma época em que não nos faltava nada. Eu e minhas irmãs passávamos o fim de ano lá, e não tinha essa de viver e postar, de se arrumar e tirar foto pra publicar, de dar dicas de lugares ou ficar acompanhando o que os outros estavam fazendo. Estávamos lá e pronto. Não existiam redes sociais. E olhando hoje de longe, sem querer exaltar o passado mas só pensando na simplicidade da época, não consigo pensar num período mais feliz de vida.
 
A gente brincava a tarde toda e, lá pelas 17h, tomávamos banho e íamos pra sorveteria da minha avó. Puxávamos uma cadeira e sentávamos com meus avós e com os conhecidos deles, que se juntavam a nós na calçada da sorveteria. E como a gente vivia sem ter um celular na mão? Não sei, mas os momentos eram os mais importantes. Hoje é uma loucura vislumbrar que a gente conversa com as pessoas com um aparelho do lado (como se respirássemos com a ajuda de aparelhos) checando se alguém mandou um whats app ou curtiu nossa foto no instagram. Onde foi que a gente se perdeu?
 
Eu não sei o porquê éramos felizes, mas éramos. A praça principal da cidade ficava na frente da sorveteria e, em um determinado momento da noite, íamos dar uma volta por lá, comprávamos pipoca, algodão doce, e entrávamos na igreja pra ver o presépio montado pra noite de Natal. A gente não vivia pra mostrar a ninguém, a gente só vivia mesmo.
 
Nossa infância ficou marcada em Catanduva como as três netas mais felizes que alguém já viu na casa dos avós. Já adulta, em 2008, quando a minha avó morreu de repente, foi o pior dia do mundo. A morte dela colocou um ponto final na nossa infância fazendo de toda lembrança, a partir daquele dia, triste. Minha mãe me disse que o lado mais difícil da morte da minha avó é nunca mais poder falar com ela. E acho que a morte arrebenta justamente por isso, porque a gente nunca mais vai falar com a pessoa. Foi e pronto. Acabou e você que lide com suas memórias.
 
Eu comecei o texto falando de tecnologia e terminei falando da minha avó porque, no fim, só queria me lembrar que é dos momentos mais simples que a gente vai ter saudade depois. É de sentar na calçada e puxar papo tomando sorvete. É de falar besteira com os avós, brincando com seus cabelos ralos. 
É estar presente nos lugares sem esperar mensagem de ninguém.
 
Somos felizes hoje? Não sei. Mas a gente finge bem no instagram. 

 Fiquem bem <3 
 
E se você gostou desse texto, dá uma passada lá no 40º gole. 
 
Um beijo,
Volto logo.
 
 
 
Um rascunho perdido
(textos meus escritos em algum lugar do passado) 
 
Image item
Catanduva, anos 80.
Um tempo de Passat branco e chuquinha no cabelo.
Vovô tira a chupeta de Clarinha para que ela saia bem na foto.
 

Clara Vanali

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Sobre
 
Sou jornalista de formação, tenho uma produtora de vídeos como ocupação, mas aqui, nestes goles,  eu apenas escrevo. 
 Prazer, Clara Vanali ;)