"_A gente viveu na melhor época que tinha pra viver, sem essas merdas de celular_ "
Eu moro com a minha irmã mais velha e recentemente a gente percebeu que está vivendo como viviam meus avós em Catanduva. Tocando a vida, limpando a casa, indo trabalhar, voltando, organizando as cortinas, ligando um jornal na tv à noite, preparando uma janta, indo dormir cedo.
Engraçado que só percebo hoje o quanto não havia nada de errado com a rotina deles. Eles não tinham ansiedade. Não se preocupavam em programar viagens pra longe. Em comerem em mil restaurantes diferentes. Em irem a lugares movimentados pra conhecer gente.
Eu não desisti da vida não, amigos. Gosto muito dela. E só tô curtindo esse momento em que não preciso preencher uns buracos que, hoje, já não me soam tão vazios.
É interessante lembrar que, quando eu e minhas duas irmãs éramos crianças, nos anos 90, passávamos as férias lá na casa da minha avó e, de certa forma, incorporávamos essa rotina de viver o dia e apenas ele. A gente almoçava, brincava, tomava café preto com bolacha maisena… o dia acabava e o outro dia começava de novo sem acharmos que algo nos fazia falta. Porque nada faltava.
De certa forma, com o celular, estamos sempre perdendo. É sempre uma experiência a menos, um restaurante a menos, um show a menos, um museu a menos, um filme a menos, um resort a menos, um namorado a menos.
Eu tô cansada de achar que tô sempre perdendo.
Tenho o coração tranquilo que já fui a muitas festas, que já voltei de madrugada muitas noite, que já preparei jantares para caras com a esperança de que valessem o esforço, que já me cobrei pra fazer uma viagem internacional por ano, que já fiquei horas em pé em bares, interagindo.
Mas quer saber? Agora eu quero só trocar a cortina da sala, terminar de pendurar os quadros na parede e ter uma boa saúde.
Vó, hoje eu eu te entendo. Que às vezes, pra sossegar o coração, só nos preenche uma bolacha maisena e um café.
Fiquem bem <3
Em especial, você pode gostar do gole 74.
Um beijo,
Volto logo.