35 #trigésimo 
quinto gole
 
Oi, como vocês estão?
Vamos pro trigésimo quinto gole?
 
A gente sabe que a frase “ame o seu trabalho e não terá que trabalhar nenhum dia da sua vida” é a maior besteira que já disseram. Você vai ter sim que trabalhar o triplo porque, mesmo gostando do que faz, isso vai te exigir entrega máxima para que seu negócio/emprego funcione da melhor maneira possível. 
 
Ainda assim, depois de 10 com a minha produtora de vídeos, dando tudo de mim - pra uma empresa que é minha e das minhas irmãs - às vezes me pergunto se eu ainda deveria estar tão na linha de frente como estou. Quando falamos de gravação, sou eu quem saio, muitas das vezes, com a câmera na mão, pra contar as histórias, pra lidar com o cliente e experienciar o dia a dia da linha de frente. Será que eu já deveria ficar apenas no escritório gerenciando?
 
Numa dessas divagações, fui outro dia no Clos wine bar, da chefe Elisa Fernandes, que foi a ganhadora da primeira edição do MasterChef Brasil e, cujo restaurante indiquei no meu gole passado de favoritinhos. 
 
O Clos é um desses lugares bons pra ir sozinho, porque você pode se sentar no andar de cima, pedir uma taça de um rosé e se permitir almoçar sem pressa - entre as entradinhas e pratos principais - acompanhando de perto o trabalho da Elisa, que fica 100% presente na cozinha, coordenando tudo, cozinhando junto e finalizando os pratos. É tão bonito ver a entrega dela participando ali de fato, sabe? Indo até as mesas, servindo (junto com sua equipe), conversando com as pessoas, explicando os processos…e isso me fez pensar que estar com a mão na massa te traz experiências de vida muito mais sinceras do que apenas ficar de longe observando. Certamente não estou falando aqui de multinacionais em que presidentes não se encaixam no papel de ir lá fabricar um produto, mas no caso de empresas pequenas, fazer junto é recompensador pra caramba. É o que te dá essa sensação de que estamos aprendendo, conhecendo pessoas interessantes, dando o nosso toque e talento pras coisas se movimentarem.
 
E é incrível como ir pra rua gravar me faz uma pessoa melhor. 
Não tô querendo romantizar nada não, só contando um trem que acontece comigo. Não tô falando aqui de todos os trabalhos, trabalho pode ser apenas trabalho, e algo a ser cumprido pra pagar as contas. E pode acontecer de você simplesmente não se identificar com o que está fazendo.
Mas muitas vezes já acordei pensando: não queria me esforçar hoje pra interagir, fazer e acontecer, mas depois que me permiti vivenciar aquele dia, terminei com uma sensação boa no coração, de ainda bem que eu fui.
Minha irmã, que mora comigo, já me ouviu várias vezes dizer: - cheguei hoje em casa muito melhor do que quando saí. Me diverti, entrevistei pessoas legais, conheci lugares novos, cresci intelectualmente e colaborei para que outra pessoa ficasse satisfeita com o serviço que contratou.
 
E sobre dar a chance pro dia fazer mais por você do que você planejou pra ele. E eu sou grata por, muitas vezes, as oportunidades acreditarem mais em mim do que eu nelas. Às vezes a gente tá cansada, sem pique pra entregar nossa disposição, mas aí vamos em frente sem esperar nada e recebemos um montão de coisa em troca. 
E, pra mim, essa é a verdadeira razão de, como dona de empresa, me envolver na construção dos projetos. É ir na mesa, servir o cliente, encher a taça de vinho e lavar a louça depois. É confiar na sua equipe mas se dar a chance de não se desconectar de tudo aquilo que faz as coisas terem sentido - o fazer e participar.
 
Talvez um dia, quem sabe, me veja longe de tudo, só coordenando. Não é errado, não é ruim. Mas que muita coisa eu vou perder, isso eu vou.
 
Fiquem bem <3 
 
E se você está chegando agora, pode ser que goste de ler também o 19º gole.
 
Um beijo,
Volto logo.
 
 
*Um rascunho perdido*
(textos meus escritos em algum lugar do passado) 
 
Minha mãe foi levar flores para o túmulo da minha avó em uma cidade perto de Catanduva.
 - Chega disso, mãe. Isso não faz bem.
- Melhor as pessoas serem cremadas, disse ela. Assim elas voltam para onde vieram.
Tem dia que é difícil. Fim de ano é uma angústia. É minha avó que morre a cada Natal. Somos eu e minha mãe chorando no telefone. Que merda. As pessoas não voltam mesmo.
Podiam nos dar a chance de ressuscitar uma pessoa por vida.
Cada um, a partir de hoje, tem direito de trazer uma pessoa para que ela viva por mais 1 ano. E vó, eu te traria agora. 
Pra gente ficar conversando, sem interrupção, até os meus 36 anos.
 

Clara Vanali

Instagram
Facebook
Sobre
 
Sou jornalista de formação, tenho uma produtora de vídeos como ocupação, mas aqui, nestes goles,  eu apenas escrevo. 
 Prazer, Clara Vanali ;)