Oi queridos,
como vocês estão?
Na minha época de recém-formada, os gestores de empresas tinham o hábito de, nas entrevistas de emprego, perguntar aos candidatos: como você se vê daqui a 5 anos?
Eu nunca gostei dessa pergunta. Sempre fui pessimista demais pra acreditar que o mundo sobreviveria a 5 anos ou achava levemente arrogante projetarmos que o sucesso viria em 5 anos.
Hoje, é ainda mais difícil pensar nisso, visto que a gente só espera que o próximo verão não queime todas as florestas do mundo e que tenhamos água potável pra beber. Como você se vê daqui a 5 anos? Vivo.
Nos meus 20, no entanto, sonhávamos. E em alguns dos meus sonhos eu queria ser repórter de TV. Pra isso, me inscrevi num processo seletivo da Globo, levando embaixo do braço minhas passagens na TV da faculdade que eu cursava. Mas as etapas pra vaga eram penosas. Tinha prova escrita, redação, dinâmica em grupo (deusmelivre) e, pra finalizar, uma rodada de entrevistas com os gestores.
Pelo o que eu me lembro eram umas 5 ou 7 fases de seleção. E, aos pouquinhos, fui avançando até chegar na tão esperada última fase.
E pra este momento, depois de muitos concorrentes, sobramos eu e um moço chamado Mauricio (nome real foi mantido aqui, portanto, mauricio, se você estiver lendo essa newsletter, sem ressentimentos).
E eu estava plena, aguardando meu horário ali com ele, numa salinha de espera. Porém, nosso horário passou e ninguém nos chamou. Os gestores estavam atrasados. E eu fiquei na minha porque, afinal, era a vaga da minha vida. Mas Mauricio era impaciente, reclamou diversas vezes - onde já se viu deixarem a gente esperando esse tempo todo e falou algo do ar condicionado, que eu não me lembro bem, que tava calor, ou algo do tipo.
Por mim, que demorassem 10 horas. Eu tava na Globo, nada importava, minha vida profissional mudaria dali em diante.
Pois enfim, me chamaram pra conversar, e quando entrei na sala me avisaram que o gestor Jânio tinha ficado preso no trânsito e não conseguira chegar pra me entrevistar. Droga, justo o Jânio. Era um cara que eu tinha gostado nas dinâmicas, sabe? Gente boa, tínhamos nos dado bem, ele vinha gostando do meu desempenho, seria muito bom ver um rosto simpático nesta última fase. Mas não, o único gestor que tinha conseguido chegar era um cara chato, sisudo, e que, conversando com ele, acabei não me saindo tão bem.
Em resumo, entre mim e Mauricio, Mauricio foi escolhido.
Chorei como as derrotas nos pedem pra chorar, fiquei com raiva do Mauricio porque ele só reclamava (e portanto não merecia a vaga :p ) e me senti mal porque, naquela época, eu achava que a Globo era o melhor que poderia me acontecer.
O que seria de mim?
Confiem no cosmo, amigos.
A vida escolhe pela gente, e por vezes, faz boas escolhas.
Fui pra Editora Abril e virei repórter de vídeos do segmento de arquitetura. Passei anos felizes por lá e, ao me desligar da empresa, tive a Editora Abril como minha primeira cliente quando fundei minha produtora de vídeos.
Por uns 2 anos de produtora de vídeos, a Editora Abril foi minha principal cliente. E por causa dela, consegui fazer novos clientes. Hoje, não atendo mais a Editora Abril porque, infelizmente, não sobrou quase nada de lá. Mas ela significou tudo o que me faz feliz hoje.
E quando, nos dias atuais, vejo o trabalho de repórteres de TV, admiro-os, mas vejo que aquele sonho não era pra mim.
Eu gosto da minha liberdade. Do amadurecimento que empreender me trouxe. Dos muitos projetos que, olhando pra trás, construíram uma história bonita.
E se o Jânio não tivesse faltado na reunião? Teria eu me saído melhor? E se tivessem visto Mauricio reclamar na salinha de espera? Teria sido ele o preferido? E eu? Estaria feliz na Globo até hoje?
Jamais saberemos. Mas do fundo deste meu coração, agradeço o rumo que as coisas tomaram.
A mensagem que fica é: ainda não gosto de fazer projeções, o que não significa que deixei de sonhar. Eu faço planos pro futuro, mas se ainda assim tudo mudar, que eu consiga ver beleza no que me tornei.
A vida já escolheu por vocês? Me contem?
Fiquem bem <3
E se você está chegando agora, pode ser que goste de ler também o 47º gole.
Um beijo,
Volto logo.
