51 #quinquagésimo
primeiro gole
 
 
- Outro dia passei na Vivara e senti o cheiro do perfume que você usava. É forte, mas é gostoso.
- Ah é? Tem pensando em mim então.
- Sempre. 
- Só não deu certo porque você não quis. 
- Eu penso nisso toda hora. Não sei se acabou esfriando porque você viajou…mas confesso que sempre penso em você.
- Eu senti que só eu corria atrás, aí cansei. 
- Ah não pensa assim….Te acho bem legal, bonita e ainda penso em você.
- Obrigada, legal mesmo saber disso. Confesso que tava bem afim de você na época, da gente ficar junto, sair, se conhecer. Mas sentia que você me colocava como última coisa da sua vida, então me afastei. Fiquei chateada na época, da gente não se ver mais, mas enfim…passou. O timing acaba passando. Vida que segue.
 - Infelizmente eu tava numa rotina de trabalho alucinante, daí você acabou viajando…desencontrou geral. Mas você seria perfeita pra conhecer. Bem diferente em todos os aspectos que eu já vi, você ganhou de todo mundo. Enfim, uma pena. Me arrependi. Você marcou, Clarinha. Acho que combinaríamos bem. Bom, quem sabe do amanhã né, prefiro pensar assim. 
 
                                                    …
 
Esse foi um diálogo real de uma experiência minha. O que está em azul foi o Pedro que escreveu, o que está preto fui eu, durante um bate-papo pelo direct do instagram. Eu resgatei isso agora porque uma coisa tem martelado na minha cabeça: a gente não tem mais tempo para se arrepender. Já pensaram nisso?
 
Até os 30 vai…ainda tá em tempo de dar umas cabeçadas, conhecer pessoas legais e, por uma idiotice do ego, deixar passar. Até os 30, meus amigos, tá liberado amar, descartar e se arrepender a rodo. Mas depois do 35? Não. Sinto muito, estamos velhos pra isso.
Pensei muito nisso quando Pedro me chamou esse dia pra conversar. Pedro tem 46 anos. Já foi casado, já teve filho e tava numa fase em que, tranquilamente, poderíamos nos conhecer sem dramas. Eu não quero casar, eu não quero ter filhos, eu nem sabia se estava apaixonada por Pedro, eu só queria conhecê-lo mesmo. Mas aos seus 46 anos, Pedro levou nosso rolo como se levam os rolos aos 30…meio que usando a correria como desculpa, meio que colocando as viagens como empecilhos e se arrependendo como se arrependem os jovens quando a ficante deixa de correr atrás. 
Pra mim, os arrependimentos envelheceram mal. A vida não volta, os timings passam, os sentimentos viram gelo e, ainda assim, a gente segue se arrependendo como se pudéssemos passar uma vida fazendo isso - e usando como desculpa o aprendizado. Me arrependi, mas aprendi a lição. Besteira. Até quando você vai ficar aprendendo? 
 
O destino tem coisa mais importante pra cuidar do que ficar arrumando nossos remorsos. E eu queria ter dito isso a Pedro quando ele falou “quem sabe do amanhã”. Porque pior que se arrepender, é achar que o amanhã vai amanhecer e dizer: 
- opa, peraí, deixa eu juntar um casal aqui que não se alinhou.
 
E aqui leitores, deixe-me esclarecer que desejo tudo de bom pro Pedro. A gente ainda se segue no instagram, que ele seja feliz. Mas quis trazer essa historinha ilustrativa pra você solteiro/solteira que ainda acredita que a vida vai ficar pra sempre apaziguando seus arrependimentos. Não vai não. Você tá velho pra isso. Eu tô também. E Pedro igualmente. 
Bora acertar desta vez. Olhar com maturidade se a pessoa que está do nosso lado não vale a pena ficar um bocado a mais, e se essa frescura pra mandar um whats app está valendo mesmo a pena. 
O destino daqui a pouco vai bater a nossa porta, não pra trazer a pessoa amada, mas pra dizer: escuta, você não tá velho demais pra fazer merda? 
 
Fiquem bem <3 
 
E se você está chegando agora, pode ser que goste de ler também o 40º gole. 
 
Um beijo,
Volto logo.
 
 
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*Um rascunho perdido*
(textos meus escritos em algum lugar do passado) 
 
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anos 80. festa junina.
clarinha ansiosa pela sua primeira dança junina 
com um rapaz – bem afeiçoado, diga-se de passagem.

Clara Vanali

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Sobre
 
Sou jornalista de formação, tenho uma produtora de vídeos como ocupação, mas aqui, nestes goles,  eu apenas escrevo. 
 Prazer, Clara Vanali ;)