56 #quinquagésimo
sexto gole
 
Oi queridos,
como vocês estão?
 
Eu era a pessoa mais sociável que alguém já viu.

Tinha a minha patota mas falava com todo mundo. Fui representante de sala de todas as minhas séries. E oradora em todas as formaturas.
 
No colegial, tivemos a turma mais unida da escola. Fazíamos churrasco toda semana, tocávamos violão, nos ligávamos três vezes por dia. Nos amávamos como se amam os melhores amigos.
 
Na faculdade, segui sendo representante de sala. Mas por ter sido uma fase que coincidiu com a minha mudança pra São Paulo, confesso que já começou a ficar mais difícil encontrar quem tinha a ver comigo. Na dúvida me propus a conhecer todo mundo e lá pelo segundo ano me encontrei com Jô, Ju, Du, Clarisse, Gus, Palmeiras, Sabrina e Luciana. 
No meu estágio na TV Universitária, eu também tinha uma turma que não se largava por nada. Cerveja toda sexta à noite, a gente se adorava. 
 
Depois da faculdade veio a Editora Abril. Foram 4 anos de convivência com um montão de gente. Mas as amizades próximas mesmo foram Van, Aline e Mari. E Felipe. Que logo que saí da empresa, acabou. Aline e Mari mudaram de país. Ficamos eu e Van.
 
Saí da Abril e segui carreira solo. E esse foi o momento em que parei de coexistir com "muitos" pra conviver comigo mesma. Na época, eu tinha 25 anos. Foi um baque deixar de ver aquela multidão da Abril pra acordar de manhã e ter só a companhia do meu café. Parei de trocar com gente para interagir com meu computador. Com os anos, fui crescendo, envelhecendo, vi meus círculos de amizades se dissiparem e, por incrível que pareça, me acostumei com isso. 
 
Ser humano é uma doideira. A gente se acostuma com tudo. Hoje passo a maior parte do meu tempo sozinha ou em interações com poucas pessoas. Coisas pontuais. Um trabalho aqui. Outro lá. Um jantar. Uma reuniãozinha comemorativa. Mas a maior parte do meu tempo está nas minhas músicas, meus projetos, meus livros, meu sofá, minhas séries, meus vinhos. 
Essa não é uma história triste, leitor, estou só levantando uma tese aqui de que o tempo vai diminuindo nossas interações sociais com grandes grupos. Será? 
 
Ainda tenho alguns amigos? Sim. Mas turma? Turma não. Acho que turma é uma coisa que termina com a juventude. 
Falando com uma amiga esses dias, ela me contou que nunca se encontrou em turma alguma…a vida sempre foi um eterno tentar se encaixar aqui e ali. É como toda vez estar em um lugar e pensar: essas pessoas não são minhas e eu não sou delas. 
 
No meu caso, eu acho que tive muitas turmas boas. Mas hoje não mais. 
É mais difícil fazer/manter amizades depois de adulta, pra não dizer impossível, e muitos dos antigos amigos casaram, tiveram filhos e seguiram outros rumos. 

Posso ser considerada antisocial? Acho que não. 
Me vejo mais como uma pessoa extrovertida na rua e introvertida em casa. Me acostumei com menos gente e, talvez por morar com a minha irmã, a gente tenha se habituado a fazer muitas coisas juntas e a combinar nas preferências quando queremos ir nesse ou naquele lugar - sem a preocupação de estarmos agradando ou não. O tempo faz isso também, damos mais preferência as nossas vontades que às dos outros. 
 
Ainda assim, me pego pensando….
O que acontece com as turmas depois dos 30?
Às vezes bate uma saudade apertada de um abraço em grupo e da sensação de invencibilidade que isso trazia. 
 
Fiquem bem <3 
 
Mudando de assunto.
Conheci a jornalista Manuela Macagnan na Editora Abril e a gente sempre se entendeu nas sensibilidades da vida. Manu agora tem uma newsletter também e, na última edição, me convidou a responder 3 perguntas sobre processos de escrita, leituras e receitas. 
Vale acompanhar tudo o que a Manu inventa, te convido a assinar a newsletter dela e a seguir seu olhar lindo pras bonitezas da vida. Obrigada por sempre me acolher, Manu! 
 
E se quiserem ler mais um negocinho sobre amizade, tem coisa boa lá 
 
Um beijo,
Volto logo.
 
 
 
Um rascunho perdido
(textos meus escritos em algum lugar do passado) 
 
Image item
Eu gosto tanto de saber que um único cheiro pode levar para outro mundo. 
Hoje à tarde, deliciei-me aos descascar mexericas. 
Apenas com o momento de tirar sua pele laranja com as mãos, fui para Araçatuba. 
Lembrei-me de meu pai indo até a sala de tv, com as frutas em uma grande bacia, e da minha mãe gritando da cozinha, para saber se eu precisava de mais algumas delas.
Mexericas tão cheias de lembranças, me fazem viajar por mais de 500 km.
 

Clara Vanali

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Sobre
 
Sou jornalista de formação, tenho uma produtora de vídeos como ocupação, mas aqui, nestes goles,  eu apenas escrevo. 
 Prazer, Clara Vanali ;)