80 #octogésimo gole

 
 
Entrei na Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo, e fiz meu tempo por lá. Caminhei pelas exposições dos autores que expunham seus cadernos, artes e trabalho autoral. Subi as escadas e só os degraus já dão uma dimensão de quão bonito é aquele lugar. Passou uma hora no relógio e decidi ir almoçar lá no Cuia, dentro do Copan. Sentei com a minha irmã numa mesinha e comecei a anotar coisas no meu próprio bloco de notas.
 
Quando você tem 36 anos, como encaixar alguém na sua vida? 
 
Lembrei da cerveja com o Rodrigo, na noite anterior. Eu já estava de pijama, era a segunda vez que ele convidava. Da primeira vez meu pijama venceu, e tive a sensação de que aquela seria uma cerveja muito casual para eu largar minha casa e ir pro bar. Mas talvez eu esteja muito fechada a conhecer pessoas. Vamos. É só uma cervejinha de boas numa quinta-feira à noite.  
Tava calor. É mais fácil se convencer de casualidades quando São Paulo não encobre de garoa as nossas cabeças. Marquei do lado de casa e fui a pé.
E juro que fui com meu coração. Porque depois dos 30, não largo minha coberta se não for para aquele compromisso fazer diferença da minha vida.
Eu já conhecia Rodrigo. Ele me conhecia também. De trabalhos passados e conhecidos em comum. Mas papear mesmo, um de frente pro outro, seria a nossa primeira vez. 
 
Dois chopps. 
Conversamos e me vi numa situação meio repetida como se já tivesse tido aquele mesmo encontro muitas e muitas vezes. Em que homens falam muito de si e perguntam pouco de nós. 
 
Me pus a pensar se, após os 35, alguém consegue construir uma vida com outra pessoa. Porque….pensa comigo….perto dos 40 a gente já vem com vários defeitinhos né? Tocs, refluxo, rotinas, preferências e todo um cronograma em que….ainda cabe alguém?
E será que eu ainda caibo na vida de alguém? 
 
Nós, que estamos solteiros após os 36, sobramos? 
Me parece que restou uma massa de gente interessante (tenha fé) que não se firmou amorosamente, mas que levantou uma parede de concreto sem portas, em que não consegue abrir pra mais ninguém. 
 
E tomando meu café ali no Copan, na tarde mais bonita daquele começo de mês, com meu bloco de notas e o vento passando pelos cabelos, fiquei tentando desvendar se não abrir portas é uma espécie de egoísmo ou se é paz de espírito mesmo. Pois aos quase 40 já estamos com a vida mais própria, digamos assim. Mais nossa.Trabalho caminhando, saúde mental em dia. Entendendo, de cabo a rabo, o que nos faz bem e o que vem pra somar. E paz, meu amigo…taí a melhor coisa que inventaram. 
 
A maturidade faz a gente querer evitar experiências aleatórias e pessoas que entram para somar zero dentro de um mundo nosso, que funciona bem. 
Porque se for pra entrar mesmo, peraí que vou colocar mais uma cadeira na mesa e separar um prato de comida pra você. 
Na próxima, aliás, a gente cozinha juntos. 
 
Fiquem bem <3 
 
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Um beijo,
Volto logo.
 
 
Um rascunho perdido
(sobre um filme que vi no fim de semana e só consigo pensar nele)
 
Lindo ver um absoluto espetáculo de 2 atrizes - Judie Foster e Annette Bening - reproduzindo a história real que marcou a trajetória da nadadora Diana Nyad, ao alcançar o recorde histórico de nadar de Cuba até a Flórida. Nyad não era de desistir. Com 64 anos, nada a impediu de percorrer 177 km no mar. Nem a exaustão, a hipotermia, animais marinhos letais, condições meteorológicas terríveis, desidratação, nada. Linda peça audiovisual, aliás. Judie está irreparável. O filme mistura cenas reais com a ficção, atuações incríveis, entretenimento perfeito. E lição de vida. 
Que coisa maravilhosa ver a conquista de 2 mulheres na tela. 
Tá na Netflix, assiste aí vai. 
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Clara Vanali

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Sobre
 
Sou jornalista de formação, tenho uma produtora de vídeos como ocupação, e aqui, nestes goles, eu apenas escrevo. 
 Prazer, Clara Vanali ;)