81 #octogésimo 
primeiro gole
 
 
Oi queridos, tudo bem?
 
Numa tarde recente de sexta-feira, fui fazer um trabalho em um lugar em que estudantes de medicina estavam celebrando a formatura. Não a parte da festa, mas a parte em que vestem beca, chapéu, faixa e tiram fotos com a turma. Olhei pra eles e lembrei de mim, 15 anos atrás, com Sabrina, Lucy, Juliana, Clarisse, Tonhão, na nossa formatura de jornalismo, com a mesma beca e chapéu tão representativos. Eu era a oradora da turma. A luz do auditório acabou no meio do meu discurso. Rimos muito.Tudo era festa. A gente tinha muitos sonhos e vivia tentando imaginar como seriam as nossas vidas dali pra frente. 
 
Tenho a impressão de que quando se tem 20 e poucos, a gente vive sempre com a cabeça no futuro. Tentado prever cada pedacinho de vida, cada pessoa que vamos conhecer, quanto vamos ganhar, se teremos um canto próprio, um emprego próprio, uma casa própria, filhos, família. 
Vamos ser bem-sucedidos? Vamos ser felizes? Onde vou estar com 35 anos?
 
E aí, hoje, com 36 anos, passando por aqueles estudantes de medicina cheios de expectativa pelo futuro, me vi. Como se eu tivesse tomado o lugar daqueles estudantes por um momento e, de repente, olhando pro lado, me visse andando ao lado deles, com uma câmera na mão, já com 36 anos, fazendo algo que me deu tudo, atendendo clientes que conquistei numa cidade onde eu nada conhecia, gravando vídeos e entrevistando pessoas que possibilitaram eu me realizar como jornalista. 
 
Vocês, adultos, já pensaram que estão vivendo seu futuro? Doce ou amargo, com tudo o que imaginávamos ou não, estamos nele. 
E aí tenho a sensação de quando a gente chega no futuro, a gente para de seguir olhando lá na frente. A gente para de querer, incansavelmente, alcançar, alcançar, alcançar. 
Um dia uma amiga me perguntou: 
_mas você não tem mais sonhos? 
_eu já realizei meu maior sonho, ter um trabalho que me dê orgulho. 
_mas sem sonhos você para de viver.
_discordo. eu só quero curtir o que eu conquistei e viver daqui por diante sem grandes ambições.
 
é pecado?
 
Trazendo uma frase que minha irmã mais velha falou esses dias: a gente não tem tudo, porque o que a gente tem já é muito. 
Parece piegas falar essas coisas, mas você já pensou que tem braços, pernas, que levanta da cama todos os dias, que consegue preparar um café sozinho, sair pra rua, tomar um sol no rosto, ligar pra sua família pra conversar, trabalhar em algo que te possibilita se sentir capaz…..e mais uma lista de coisas que pode ser sem fim. 
 
E aí você pode me dizer, que_ tinha o sonho de ter filhos e não conseguiu, ou que teu trabalho ainda não te realiza, que os relacionamentos não vingaram ou que tua saúde anda pelos altos e baixos. 
Sim, com certeza temos as nossas batalhas, faltas, questões. 
Mas olha o que você tem
 
Já imaginou que o que você tem já é muito e que, talvez por isso, você não tenha tudo? 
 
Eu preciso mesmo seguir a vida toda achando que algo está me fazendo falta? E viver pra sempre de olho lá na frente querendo realizar, realizar e realizar?
 
Eu não posso simplesmente viver os dias? Agradecer pelos feitos alcançados, pelo conforto da minha casa, escrever minha newsletter num dia de chuva e dormir em paz à noite? 
É crime não se comprometer com tantos planos? E só querer celebrar mais um ano vencido, curtindo um panetone com minha família?
 
É como se eu tivesse vivido uma jornada inteira faltando um pedaço e, de repente, aqueles estudantes de medicina me pegassem na mão e dissessem: veja, o seu futuro chegou, você está viva e você conseguiu, aproveita.  
 
Fiquem bem <3 
 
Todos os goles passados estão disponíveis para leitura lá:  www.claravanali.com.br 
Em especial, você pode gostar do gole 74.
 
E você? Como se sente em relação às ambições e ao futuro?
Me escreve pra contar?
 
Um beijo,
Volto logo.
 
 

Clara Vanali

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Sobre
 
Sou jornalista de formação, tenho uma produtora de vídeos como ocupação, e aqui, nestes goles, eu apenas escrevo. 
 Prazer, Clara Vanali ;)