83 #octogésimo 
terceiro gole
 
Oi queridos, tudo bem?
 
Jan/24. 
Cheguei em São Paulo sem saudades. 
Passei a viagem inteira tentando lembrar porque há 18 anos eu havia tomado a decisão de sair de Araçatuba e nunca mais voltar. 
Na despedida com a minha irmã, ela cochichou: se quiser largar tudo e morar de novo no interior, a gente inventa outra coisa pra fazer. Ela disse isso se referindo a nossa empresa, que depende diretamente do mercado existente em São Paulo. Voltar pra Araçatuba seria fechar a firma e começar outra coisa do zero.
 
É um abraço a sua irmã dizer que abriria mão de tudo pra você voltar a morar perto. Eu não vou desistir. Mas só de ouvir isso me senti amada. E acolhida. O nosso amor em família estará sempre acima dos negócios.
 
Sair de São Paulo seria de fato desistir de muitas coisas. 
Ou será que após 18 anos na capital eu já tenho passe livre pra procurar outra cidade?
 
São Paulo onde a vida acontece.
Araçatuba onde a vida se repete. 
 
Talvez eu não seja mais nem de Araçatuba, nem de São Paulo. Talvez as cidades sejam apenas um berço pra gente conhecer pessoas, ganhar dinheiro, criar memórias, se divertir e partir. As cidades vivem temporadas. O lugar que você deixou pra trás não é o mesmo de agora. Você também não é o mesmo. A sua cidade atual também mudou desde quando você aterrissou nela. Talvez ela não queira que você parta, ela só queira que você ressignifique a sua estadia nela. 
 
Ainda há espaço para eu ressignificar São Paulo? 
 
                                                      …
 
Assisti Você é o que você come - dieta do gêmeos e fiquei com vontade de só comer vegetais até o fim da vida. Minha relação com a carne hoje é de tolerância. Eu ainda como porque não tenho a disciplina necessária para virar vegana. Mas, muitas vezes, torcendo o nariz. Não consigo aproveitar um bife de carne vermelha sem imaginar que tô mordendo um bicho. No Réveillon minha família fez leitoa assada e pururucada. E eu fiquei olhando aquele courinho do porquinho que tinha um pouco de pêlo ainda, pensando no bicho inteligente que mataram pra gente comer naquele almoço. Não consegui. Deixei o couro e todo resto de lado. 
 
                                                         
 
É uma pena que dezembro tenha acabado. Que mês bonito. Eu finalmente descobri qual é o meu dia favorito do ano: 31 de dezembro. Aquele dia em que nenhum problema vai aparecer e que a preocupação é colocar o champagne pra gelar e brincar de pega pega com a criançada na varanda. Época em que a gente só se importa em ficar junto. Em dividir pedaços de panetone. Em esquecer o celular. Em passar horas na cozinha preparando pães de queijo e bolachas fresquinhas. 
Acabou. 
Vocês já estão preparados para ficarem o dia inteiro na frente do computador?
 
                                                …
  
Me matriculei novamente na academia após 6 anos sem pisar em uma. Na época, eu peguei tanta birra da música alta techno house party all day que fugi um pouco antes da pandemia e não voltei mais. Não que eu tenha ficado no sofá esse tempo todo. Tentei algumas alternativas. Pilates, caminhadas ao ar livre…Mas percebi que sem músculos não somos ninguém. Não conseguimos levantar uma sacola. Abrir uma porta. Envelhecer. Eu amava correr mas percebi que o impacto pros joelhos a longo prazo não é bom. Então eu só quero levantar uns pesos pra criar massa muscular pra gravar com a minha câmera sem ter dores nas costas depois. Mesmo o ano-novo sendo uma coisa que a gente inventa pra renovar esperanças, fico feliz que tenha me dado incentivo pra voltar a me exercitar com mais frequência agora. 
 
Como vocês estão se mexendo por aí?                     
 
Feliz ano-novo! 
 
Fiquem bem <3 
Todos os goles passados estão disponíveis para leitura lá: www.claravanali.com.br 
Em especial, você pode gostar do gole 78 (Cansada de estar sempre perdendo). 
 
Um beijo,
Volto logo.
 
 
Raschunho perdido
(textos meus escritos em algum lugar)
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eu não gosto muito de vir pro interior. porque depois de cinco dias aqui, eu acabo gostando muito. e me esqueço do porquê fui embora. e acabo gostando de me esquecer e fico aqui gostando de tudo. do jeito que o sol bate no cabelo. do jeito que as ruas são mais silenciosas. do conforto em ter minha família inteira no quarto ao lado. do meu sobrinho cantando besteiras no microfone. do céu que abre azul. do meu esquecimento de ir. e só querer gostar. de estar aqui.

Clara Vanali

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Sobre
 
Sou jornalista de formação, tenho uma produtora de vídeos como ocupação, e aqui, nestes goles, eu apenas escrevo. 
 Prazer, Clara Vanali ;)