Oi queridos, tudo bem?
Minha irmã me escreveu esses dias que comprou um
leite de rosas. O mesmo que minha avó usava quando era viva. Ela abriu o frasco, cheirou e chorou.
O perfume a levara para aquela casa, para aquela sala e para a mesa central da cozinha, quando nos juntávamos para contar histórias que faziam minha avó chorar de dar risada. E se tem uma coisa que lembra ela e aquela casa é
minancora, pastilha
valda e leite de rosas.
Lembrei do velório dela em 2008. Foi num cemitério bonito numa cidadezinha perto de Catanduva. Enquanto ela era velada por conhecidos e desconhecidos, fiquei olhando aquele monte de túmulos na minha frente, pensando que nossa vida tinha acabado naquela manhã. Com a morte dela, a nossa infância morrera junto. E a esperança de que pessoas especiais não morrem, também.
Uma frase dita pela irmã da minha avó, no entanto, salvou os meus anos dali pra frente. Vendo nosso desolamento e tristeza profunda, ela (uma senhora bem despachada) chegou pra minha mãe e disse: Sorte a dela que já foi, e a gente que ficou?
Isso foi meu salvamento. Parei de achar que era terrível ela morrer e perder o tanto de vida que ainda teria pela frente, e me agarrei a acreditar que ruim mesmo era pra nós que ficamos, com toda essa braveza dos dias pra suportar _então que bom que você se livrou vó, vai em paz que a gente vai sofrer mais um pouco nesse mundo aqui.
Já se foram 15 anos desde que ela se morreu e eu nunca me esqueci dessa frase. Toda vez que lamento por ela ter ido tão cedo, tento me consolar pensando que ela se poupou do sofrimento_sorte a dela que já foi, e a gente que ficou?
Acho que a tristeza da vida vai tirando a doçura da gente.
Minha irmã, no mesmo dia em que comprou o leite de rosas, me disse que tem esperança de que um dia a gente encontre a minha avó, em algum plano espiritual, interestelar, universal, paralelo, infinito. Pensei a respeito e disse:
_não vamos mais encontrá-la, melhor aproveitarmos quem amamos neste momento mesmo.
Fiquem bem <3
Um beijo,
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