4 #quarto gole

 
Oi, tudo bem por aí?
Bora pro quarto gole?

 

Eu insisti muito com São Paulo, acredite. Insisti a cada caminhada pensativa até à faculdade, a cada garoa e bolha no pé, a cada túnel solitário de metrô, a cada ônibus parado no trânsito, a cada dia cinza sem sol, a cada saudade da minha família, a cada vez que eu achava a cidade grande demais pra mim.
 

Foram 3 anos. 3 anos de choros e dúvidas, achando que tinha deixado toda minha vida em Araçatuba pra viver de incerteza em São Paulo.

Mas veja bem como são as coisas….lembro de, exatamente no meu terceiro ano na cidade, eu finalmente me sentir em casa. Mesmo. E de considerar São Paulo definitivamente o meu lar. 
Araçatuba tinha virado a casa da minha infância.
 

E o que rolou nesse terceiro ano?
Foi a partir dele que peguei gosto pelo o que estava cursando, que comecei o estágio mais legal da minha vida, que me empolguei pra ficar até tarde no bar com os amigos, que comecei a ganhar meu próprio dinheiro e a me sentir segura o bastante para andar na rua sem achar que eu fosse ser assaltada a qualquer momento.
 

E eu tô dizendo isso porque este ano completo 16 anos (!) morando em São Paulo. E às vezes me pego pensando no quanto eu perderia se não tivesse insistido naqueles 3 primeiros anos. Se, por ventura, resolvesse ficar em Araçatuba, sabe? Não que eu fosse ser menos feliz lá, mas acho difícil que eu tivesse tantos estímulos como os que tive aqui. Conheci pessoas incríveis, inteligentes, interessantes... provei comidas que não conhecia, venci um monte de preconceitos, participei de projetos que me deixaram feliz, criei uma empresa, ganhei independência….e mais tanta coisa. Foi tão rico esse período. Com um monte de batalha no caminho, mas zero arrependimento de ter insistido em morar aqui.
 

Vocês já tiveram essa experiência com alguma cidade? Ou com situações em que vocês insistiram e valeram muito a pena? 
Mesmo que o caminho tenha sido penoso, podem me dar exemplos?

Fico interessada nesta discussão porque penso que muito do que percorremos não vem de uma hora pra outra, as conquistas não são rápidas. 

Nem as alegrias. 

É na base do suor insistido mesmo, de não jogar a toalha logo de cara.
 

Mas até quando a gente deve insistir? 
Lembro que quando entrei na Editora Abril como jornalista, me colocaram numa vaga de repórter na revista Contigo. E eu queria morrer com isso. Era uma recém formada, lia de tudo, gostava de economia, política, literatura e me enfiaram numa revista para cobrir celebridade? 
Mas eu estava na Editora Abril (o que naquela época, 2009, significava muito). A proposta da revista não tinha nada a ver comigo, mas quer saber? Insisti 1 ano. Me dei a chance de vivenciar aquilo por este período. E pra mim foi o que deu. Fiz meu trabalho, aprendi pra caramba e também tive a certeza que não queria aquilo pra minha vida. Pedi as contas no final daquele ano e fui pra casa procurar outro emprego.
 

Indo um pouco mais pro fundo agora...sou a mestre em pensar se deveria ter insistido mais com alguns relacionamentos do passado. Nada como se torturar pensando se poderia estar feliz com alguém que passou pela nossa vida e que, por algum motivo, não ficou. Será que eu desisti muito rápido?

 

Aberta a temporada de arrependimentos. Deixe o seu aqui ;)
 

Mudando de assunto.
Tem uns hypes que não entendo. E aqui em São Paulo a moda agora é o "Dinner in the Sky", em que você janta em uma plataforma presa por um guindaste a 50 metros de altura, com a promessa de "sair da rotina com o melhor da gastronomia". Fico pensando que é tão confortável ir num restaurante gostoso, colocar os pés no chão e tomar um vinho olhando o movimento ao redor….por que vou eu querer ficar presa lá em cima numa vibe bungee jump, tendo que comer com o estômago embrulhado?!
 

E a news da semana passada rendeu e-mails maravilhosos de vocês. Obrigada. 
Sobre o papo café pessimista a respeito da velhice, a Natali me mandou um trecho de um livro que faz a gente engolir seco: "O problema de envelhecer é que por dentro a gente é a mesma pessoa, sabe? Você fica preso nesta maldita geringonça que começa a desmoronar, mas ainda é você. Entende o que eu estou dizendo?
 

Aliás, pra quem chegou agora e perdeu as newsletters anteriores, seguem: 

1 #Primeiro gole - https://view.flodesk.com/emails/610984e279d8b9360861ca61

2 #Segundo gole - https://view.flodesk.com/emails/6105bc2d1ab913c2ed9261ea

3 #Terceiro gole - https://view.flodesk.com/emails/6116d2ef519a806163d3f255

 


Um beijo,
Volto logo.

 

 

*Um rascunho perdido*

Terça-feira. Dia chato.

E quando o dia é chato, ligo para divagar com a minha mãe.
– Vamos largar tudo e ir para Itália | O que a gente pode vender lá, mel? | Talvez morar numa fazenda, criar ovelhas.
–  Podemos vender uvas. Uva é uma boa.

E assim vamos, sem fim. Projetando nossos desejos longe do pagamento de contas, do atender expectativas e do que a rotina espera.

– Vamos viajar aqui deste telefone. Fazer as malas telepaticamente. Tocar o ‘deixa estar que  daqui a pouco a gente volta’. Ou acaba gostando de criar ovelhas e nem volta.

Dia de chateações.
Ótimo para pular direto para o vinho. Para o banho. Para o beijo.

Dia de ir longe.
Bem depois de terça.

Clara Vanali

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Sobre

 

Sou jornalista mas penso que ser jornalista é mais sobre investigar. Ser escritora é mais sobre observar. Aqui, me sinto mais escritora que jornalista. Prazer, Clara ;)