O novo estudo de angiotomografia evidencia:
Resolução das falhas de enchimento nos ramos arteriais segmentares e subsegmentares para lobo inferior esquerdo.
Não há evidência de tromboembolismo pulmonar no presente estudo. Resolução do derrame pleural à esquerda.
Resolução do espessamento parietal brônquico no lobo inferior do pulmão direito.
Traqueia e brônquios principais com situação, calibre e contornos normais.
Aorta, tronco arterial pulmonar e demais estruturas vasculares mediastinais com situação, calibres e contornos normais.
Coração com situação, morfologia e contornos normais. Ausência de linfonodomegalias.
Até eu que não sou médica, li o laudo acima e entendi que era uma mensagem feliz. Não há notícia melhor que a de, após de 3 meses de uma
embolia pulmonar, descobrir que seu corpo se restabeleceu e dissolveu o coágulo.
Eu nunca fui tão grata a um remédio quanto fui ao anticoagulante que tomei nesse período de recuperação. É maluco porque muita gente olhou pra mim com espanto quando eu iniciei o remédio, como se eu estivesse ingerindo um veneno.
_Cuidado pra não cortar o dedo. Seu cabelo vai cair. Sua unha vai enfraquecer.
Tem comentário que não agrega. Eu nunca tomei o remédio pensando no pior. Eu sempre tomei agradecendo por existir um remédio que ia me curar. Meu cabelo não caiu. Minha unha não quebrou. O único efeito colateral foi o aumento do ciclo menstrual (a gente tem essa intimidade, já?), mas nada que não pudesse ser vencido.
E assim fui, por 3 meses e meio, com um comprimidinho de Xarelto 20mg todas as manhãs, sem pular nenhum dia, que eu tomava já acreditando que, em pouco tempo, ele faria todo o trabalho de liberar qualquer veinha que estivesse entupida. E então, com o pedido de uma nova angiotomografia, meu médico me enviou a mensagem que eu tanto esperava:
_Oi Clara, seu quadro se normalizou completamente, pode suspender o anticoagulante!
Agradeci ao Xarelto pelos serviços realizados e guardei-o na gaveta.
Estou curada.
Vinho, eu voltei.
Mundo, tô pronta.
Confesso que me
encolhi nesse período de recuperação. Fiquei menos afim de trocar com o mundo. De sair. Beber nem me arrisquei, embora o médico tivesse liberado uma tacinha. Me voltei só pra mim e pro Xarelto. Como se nós juntos, fazendo tudo direitinho, formássemos uma bela dupla. Ele com a parte dele, eu com a minha. Evitei aglomeração, me expus menos a gripes, e mergulhei a energia no trabalho.
Nesses 3 meses, também voltei muitas vezes ao hospital porque qualquer dor que eu sentia, eu ficava com medo de ser embolia pulmonar de novo. Sim, amigos. Nenhuma batalha passa sem deixar cicatrizes. O medo não é opcional.
Agora, no entanto, é uma emoção viver esse momento. Saber que tive uma doença que teve cura, uma solução, não é pra todo mundo. Parei de perguntar “por que comigo?” e entendi que todo mundo tem problemas. Perdi a conta de quantas pessoas, nesse período, dividiram suas próprias histórias de superações e me fizeram pensar_caramba, a vida não é mesmo uma linha reta pra ninguém.
Quando teremos que lutar novamente? Quantas vezes estaremos entre a vida e a morte? Quantos dias da nossa vida teremos que superar a despedida de uma pessoa querida?
Qual será a nossa próxima batalha?
Vamos um dia de cada vez.
A casca vai ficando dura com os tombos, mas ainda assim, é importante celebrar ciclos vencidos.
Eu fechei esse ciclo da minha vida e me sinto grata por mais essa chance.
Vivo dizendo que ninguém volta mais forte de um campo de guerra, que aprendizado não deveria vir com a tristeza, mas uma coisa é certa: saímos dessa sabendo que há muita gente torcendo pela gente e, se tem uma coisa legal desta vida, é comemorar com a nossa torcida.
Hoje, eu comemoro com vocês.
Obrigada.
Fiquem bem <3
Em especial, você pode gostar do gole 78.
Um beijo,
Volto logo.