86 #octogésimo 
sexto gole
 
Oi queridos, tudo bem?
 
Deitada numa caminha gostosa, no quarto de hóspedes de um casal de amigos em Holambra, rezei. Eu gosto de rezar quando estou feliz. Ateus também rezam, não sei se já disseram a vocês. E eu me sinto bem em fazer uma oração para agradecer quando estou no meio de um círculo de acontecimentos, que me fazem grata por essa vida ser tão boa comigo.
 
Depois que tive a embolia, fiquei com uma dorzinha embaixo do peito, uma dorzinha nota 5, que aparecia toda vez que eu fazia algum esforço. Mesmo depois de ter concluído o tratamento e passado todo o susto, a dorzinha dava as caras de vez em quando, quase que para me lembrar que_não se esqueça, a vida leva a gente em 3 segundos. 
Minha irmã dizia que o que eu sentia era a memória da dor, e não a dor em si. Era algo que tinha ficado ali no meu subconsciente e que, de vez em quando, aparecia. Eu não sei o que era mas, depois de 7 meses, passou. Demorou, mas se foi totalmente. Não sinto mais dor alguma desse episódio. Isso me fez pensar muito sobre como algumas coisas pedem um tempo até que atravessem a nossa vida completamente. As dores demoram pra se curar. Não é só um corte físico, é também um desassossego mental. É uma memória da dor, de fato. Um desequilíbrio que bagunça tudo aqui dentro e que, aos poucos, vai se montando de novo. A gente só precisa respeitar esse tempo e, quando passar, deitar a cabeça no travesseiro e dizer_obrigada, deus. hoje eu só quero descansar. 
 
                                                           …
 
Às vezes entro no instagram do primeiro cara que eu gostei na vida. 
Não pra lembrar dele, mas pra lembrar de mim.
A gente tem muitos sonhos quando é adolescente. 
Hoje, eu me vejo com muitas vontades, mas nem tantos sonhos. Sonhos me parecem mais hipotéticos. Já as vontades me dão mais energia pra realizar a curto prazo. 
Depois dos 30, não me coloco tantas metas por ano. 
No ano passado, minha principal meta foi reformar a casa. Conseguimos. Este ano, a meta é ter uma boa frequência na academia. E no meio desse processo de metas base, eu vou encaixando vontades no caminho.
 
                                                       …
 
Dos 35 aos 36 senti que meu rosto deu uma caída. Perdi as bochechas. Eu enruguei oficialmente_desculpe senhora, mas o seu processo de envelhecimento já começou. 
Colágeno é cativante, mas eu acho bem mais bonito o amadurecimento e a clareza do existir que a gente adquire com os anos. Se o tempo fosse uma mágica, em que eu pudesse voltar atrás e fazer o que quisesse, eu desejaria ter a cabeça dos meus quase 40. 
Eu sei, a inocência do começo é importante pra criarmos casca. Mas valorizo demais meu atual sossego no coração, ainda que pra isso o tempo vá levando todos os meus cabelos pretos. 
 
E vocês como estão? É só me responderem esse e-mail contando, que eu vou adorar ter notícias de vocês. 
 
Fiquem bem <3 
 
Todos os goles passados estão disponíveis para leitura lá: www.claravanali.com.br 
 
Um beijo,
Volto logo.
 
 

Clara Vanali

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Sobre
 
Sou jornalista de formação, tenho uma produtora de vídeos como ocupação, e aqui, nestes goles, eu apenas escrevo. 
 Prazer, Clara Vanali ;)